terça-feira, 23 de novembro de 2010

CAPÍTULO XVII

─ Então? Qual a sua explicação? O que faz invadindo minha casa? Expondo a Serena desse jeito?─ perguntou, fazendo muito esforço para não gritar. A última coisa que queria agora era acordar a mãe e assustar ainda mais Serena.
─ Calma, Dario! Você está muito nervoso... apesar de eu já imaginar, agora tive a certeza de que vocês estão juntos. Tenho que admitir, você não é bobo. Ela é bem... digamos... gostosa...─ foi interrompido por um soco que levou no rosto. Dario não agüentou mais e partiu para cima do “colega” de trabalho.
─ Opa, não quis te ofender, Dario. Você está com a cabeça quente... por isso não vou te dar o troco. Eu vim aqui porque Ricardo foi visto na cidade vizinha. Achei que gostaria de saber. Adeus!
Jean virou as costas e saiu pela porta lateral da casa. Mas Dario estava longe de estar calmo. Sentou numa cadeira próxima da piscina, mas conforme foi pensando no que ouvira, calmo era a última coisa que iria sentir.
Como Jean soubera dessa informação tão rápido, se o seu amigo havia dito de forma confidencial há poucas horas apenas? E como conseguira entrar na sua casa sem ser anunciado?
Mas iria tirar essa história a limpo. E isso significava que precisava dar mais segurança a Serena e Lucas. Pessoas próximas a ele estavam envolvidas.

Serena abriu os olhos e viu que o sol já estava alto no céu. O relógio marcava sete horas da manhã apenas e estava sozinha na cama. Ela lembrou que havia se deitado para esperar por Dario, mas o cansaço venceu a luta contra o sono.
Relembrando os últimos acontecimentos, sentou-se na cama e decidiu o que iria fazer. Dario havia deixado um bilhete para ela dizendo que ia cedo para delegacia para resolver um problema. Já conhecendo ele, sabia que ele estava nervoso com o que tinha acontecido na noite anterior. E isso tinha que parar.
Mônica se ofereceu para levar Lucas à escola e Serena seguiu para o trabalho. Sentou-se em frente ao computador e pegou o papel com o email do amigo de Dario. Abriu seu email e leu a mensagem que a festa da empresa estava marcada para o final de semana. Mas não ficou entusiasmada com a notícia.
“Olá Júlio, aqui é Serena. Precisava falar com você sobre Ricardo. Dario não pode saber de nada por enquanto. Ligue-me assim que puder.” Digitou essa mensagem e deixou o número do seu celular. Feito isso, resolveu ocupar sua cabeça com o trabalho. Anotou uns endereços para umas entrevistas e saiu do Jornal.
Passou a manhã e parte da tarde na rua, coletando informações acerca de uma denúncia de usuários de drogas no parque principal da cidade. Estava guardando sua bolsa no carro quando Júlio ligou.
“Oi, Serena! Tudo bem? Confesso que fiquei surpreso com seu email.”─ disse ele.
“Você não falou nada para Dario, não é?”
“Não... ainda não.”
“Podemos nos encontrar em algum lugar para conversar? Eu li o email que você mandou para Dario... sobre ter visto Ricardo e como poderia me usar para prendê-lo...”
“Eu não quis dizer...”
“Não se preocupe, eu entendi bem o que você quis dizer... e se posso ser útil, vou ser. Dario não pode saber disso de jeito nenhum... ele nunca compreenderia... você entende?”─ sua voz falhou um pouco.
“Sim. Vou pensar. Mas seria bom nos encontrarmos mesmo.”
“Amanhã irei até aí depois do trabalho.”
“Não. Eu a procuro no trabalho, já tenho seus dados. Não se preocupe. Espere-me amanhã.”


Dando um suspiro prolongado, voltou a abrir a porta do carro para entrar, mas notou a presença de um homem a pouca distância dela. Não conseguia vislumbrar a face do homem e sentiu um arrepio na espinha. Fechou a porta do carro novamente e fingiu que estava distraída num outro telefonema. Deu alguns passos distraidamente para ficar numa posição de mais fácil visualização e apertou a tecla da câmera de seu celular. Do melhor jeito que pôde, tirou algumas fotos sem levantar suspeitas e sem saber se estava tirando alguma foto boa. Mas alguma coisa chamou a atenção dele e, quando este deu alguns passos, Serena ficou desesperada. Fez a primeira coisa que passou pela sua cabeça e jogou o telefone debaixo do carro de forma mais escondida possível. Feito isso, correu dali.
Era final da tarde e já estava escurecendo. O parque ficava amedrontador no escuro e a mente de Serena já voltava para a noite que fugia com Dario sob chuva na escuridão. O homem, porém, foi mais rápido e logo a alcançou. Na corrida ele a agarrou e puxou sua saia que rasgou na altura da coxa. Foi quando foi derrubada no chão e se viu presa pelos braços daquele homem que pareciam aços.
─ Melhor ficar quietinha, Serena. Quer acabar como sua mãe? ─ a mesma voz que a atormera tanto.
─ Largue-me! Você pensa que vai escapar?─ Serena estava gritando. Não estava com medo naquele momento, apenas uma raiva imensa.
─ Vou escapar sim. Quanto a você... não tenho tanta certeza! ─ respondeu o homem, apalpando o corpo dela.
─ O que você pensa que está fazendo? Solte-me!
─ Onde está?Eu vi que tirou fotos!
─ Não sei do que está falando!
Mas o homem não a escutava, procurava o celular dela de forma bruta e rasgou a blusa dela na busca.
─ Ricardo que mandou você me vigiar?
─ Pena que não posso brincar com você como gostaria... acho que essa parte é com ele mesmo.
─ Como faço para encontrá-lo?
─ Você pensa que sou burro, garota? Aquele seu namoradinho ta em cima da gente... quem sabe ele não é o próximo? Ele sempre atrapalhou tudo, mas agora... por sua causa, o cerco se fechou.
─ Ele não é meu namoradinho... por favor, deixe-o fora disso.
Mas foram interrompidos por barulhos de passos. Com medo de ser algum policial, o homem a largou e deu um último recado:
─ Eu volto! Fique certa disso.
Ela ficou ainda por alguns minutos, sentada no chão e abraçando o corpo. Sua cabeça estava vazia. Não conseguia pensar em nada. Apenas quando o sol se pôs que acordou para a realidade.
“Ai, meu Deus... Lucas!” pensou desesperada. Correu de volta para o carro, olhando para os lados a todo momento. Achou o celular e se trancou dentro do carro. Tinha ligações perdidas de Dario.
“Ele deve estar desesperado!” pensou, nervosa, antes de ligar o carro e discar o número da Mônica. Por sorte, ela já tinha ido buscar Lucas.
“Serena, minha filha! A escola me ligou, Lucas está aqui comigo. Aonde você está? Dario está igual louco te procurando.”
“Estou bem, Mônica. Precisei resolver um problema e perdi a hora. Obrigada por ter buscado Lucas para mim... passo aí daqui a pouco. E vou ligar para Dario.”
Mas nem foi preciso, uma sirene a fez olhar pelo retrovisor e viu um carro de polícia logo atrás. No mesmo instante, seu celular tocou.
“Oi Dario, desculpe-me... eu tive um contratempo... foi só isso...” Ela nem percebeu o quanto sua voz estava trêmula.
“Serena, encoste o carro.” Foi a única frase que ele disse.
“Não quero te atrapalhar, Dario! Eu estou bem.” Exclamou nervosa, estava beirando a histeria. Mas se deu conta do estado que estava e simplesmente não podia deixar que ele a visse assim.
“Encoste agora, Serena!”
“Tá bom.” Foi diminuindo lentamente a velocidade do carro para ganhar tempo. Passou a mão pelos cabelos desalinhados e tentou fechar a blusa o máximo que pôde. Só então percebeu que estava com marcas vermelhas nos braços e no colo.
Encostou o carro e esperou dentro dele. Não planejava sair dele. O carro dele parou atrás. Ele caminhou rápido e com a cara fechada até ela.
─ Serena, pode me explicar aonde você estava? Achei que tinha ficado claro que você não podia sair sem avisar.─ ele estava nervoso.
─ Desculpe, Dario. Eu fui fazer umas entrevistas no parque e perdi noção do tempo.─ ela falava de forma mais calma possível, mas sem olhá-lo nos olhos. Sabia que não ia conseguir.
─ Mas porque não atendeu o celular?─ perguntou, mas logo reparou como ela segurava firme a frente da sua blusa. Estava escuro e não conseguia vê-la dentro do carro direito.─ Serena, se tem uma coisa que eu aprendi é a conhecer quando fala a verdade para mim. E você está mentindo para mim agora.
Surpresa com a frase dita, de forma carinhosa, ela olhou-o nos olhos por alguns minutos, antes de desviar o olhar.
─ Sabia! Seus olhos não mentem para mim. Saia do carro, Serena... por favor, estou te pedindo.
Diante do pedido dele, sentiu os olhos marejados de lágrimas. O primeiro impulso foi ligar o carro e fugir, mas não conseguia forças para isso. Então, saiu do carro.
Dario fechou os punhos ao ver o estado em que Serena se encontrava. A sua saia estava rasgada na altura da sua coxa, sua meia calça preta estava em farrapos e a blusa devia estar rasgada.
Cuidadosamente, ele segurou sua mão, que ainda estava segurando a blusa contra o seio. A blusa se abriu, expondo o sutiã rosa que usava, assim como várias marcas vermelhas.
─ Serena, o que aconteceu? Por favor, não minta!

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