quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CAPÍTULO XVIII

O dia amanheceu nublado e frio, mas Serena sentia o coração alegre e feliz. Depois de ter dormido apenas algumas poucas horas, ela abriu os olhos e espreguiçou-se. Dario dormia tranquilamente a seu lado. Vestiu uma blusa dele e foi até a cozinha preparar um café. Estava distraída arrumando as xícaras na bandeja e assustou-se quando ele abraçou sua cintura por trás.

─ Sabia que você fica muito sexy vestindo a minha blusa...─ disse em voz baixa no seu ouvido.
─ Você acha?─ perguntou, sentindo já alguns tremores conhecidos pelo corpo.
─ Acho que você pode tirar suas próprias conclusões.─ responder, com voz um pouco rouca.

Como ele estava as suas costas, ela sentia a prova de sua excitação roçando-a. Como se sua mão tivesse vontade própria, desceu-a vagarosamente e tocou-o, sentindo ele retrair o corpo e dar um leve gemido. Mesmo sentindo o rosto se ruborizar, prosseguiu com as carícias.

─ O que o deixa mais excitado, o fato de eu estar vestindo sua blusa ou... apenas a sua blusa?─ perguntou, ousada.

Como resposta a sua provocação, ele a virou rapidamente e tomou seus lábios com violência. Quando deu por si, ele a tinha posto sentada na mesa da cozinha e estava com as pernas ao redor do corpo dele. Quando sentiu a mão dele subindo pela sua coxa e tocando-a no lugar mais sensível no seu corpo, soltou um gemido e acabou derrubando uma xícara que estava perto. Com o barulho da xícara quebrando, escutaram Mônica descendo as escadas.

─ Dario, é você, querido? Vou preparar o café para você.

Como dois adolescentes pegos em flagrante, separaram-se imediatamente. Serena sentia as faces pegando fogo e abaixou-se para pegar os pedaços quebrados do chão.

─ Bom dia Serena! Acordou cedo também? Deixa que eu preparo o café para vocês...

Mônica pareceu não perceber nada e Serena respirou aliviada.

─ Bom dia, mãe.─ foi a única frase que Dario disse.
─ Bom dia Mônica. Espero que Lucas não tenha se mexido muito a noite.
─ Ele é um amor, Serena. Não se preocupe. Vou pegar outra xícara.

Assim que Mônica se virou, Dario disse baixo em seu ouvido:
─ Serena, não posso me mexer agora... não sem minha mãe perceber...
Ela sentia vontade de rir da situação. E ele estava visivelmente muito embaraçado.

─ Mônica, Dario disse que prepararia nosso café... você pode me ajudar a arrumar Lucas?
─ Claro, minha filha. Ele estava acordando mesmo quando sai.

Serena estava sentada no banco do carro de Dario e estava longe de se sentir calma. Tinha acabado de deixar Lucas na escola e ele iria levá-la ao trabalho. Ainda precisa dizer algo a ele, mas não era fácil.
─ Dario, tem algo que você precisa saber... eu li o email do seu amigo Júlio.
─ Eu sei.
─ Sabe?
─ Já disse que você não consegue me enganar.
─ Sabe também que liguei para ele?
Ele fez que sim com a cabeça e estacionou o carro.
─ Eu imaginei que você fosse fazer isso e liguei para ele. E... minhas resposta continua sendo não.
Ela o encarou por alguns minutos. Tinha que fazê-lo entender.
─ Serena, gostaria que você fosse morar comigo. ─ disse ele de repente─ E antes que você pense algo... quero que saiba que é claro que estou pensando na sua segurança também, mas estou pedindo isso principalmente porque quero viver com você.

Serena sentiu seu dia ficar mais iluminado de tão feliz ficou. Era o que ela mais queria na vida. Mas agora não podia ceder a sua vontade.
─ Dario...─ começou, pegando a mão dele─ você não faz idéia do quanto você me deixou feliz com seu pedido.
─ Então você aceita?─ perguntou ansioso.
─ Não... agora não podemos.
─ Por que, Serena?
─ Dario, você terá que confiar em mim... não quero fazer nada escondido. Por favor...─ ela suplicava─ Prometa que irá me escutar de coração aberto.

Estavam reunidos numa sala da delegacia Dario, Serena e Mariana, que havia sido chamada pela própria Serena.
─ Então, minha proposta é a de que eu e Dario “acabemos” com nosso relacionamento perante todos. O tal homem do parque sabia do nosso envolvimento e o ameaçou.─ disse com voz firme.
─ Não preciso de proteção, Serena.─ respondeu Dario, andando de um lado para o outro.
Serena olhou para Mariana, pedindo ajuda.
─ Se Ricardo achar que não estamos mais juntos, talvez venha atrás de mim.
─ Como?─ perguntou Mariana, antes que ele reclamasse.
─ Ele quer se vingar de mim, por isso não fugiu para longe e, ao que tudo indica, está mais perto do que imaginamos. É só darmos corda.
─ O que?─ Dario praticamente gritou.
─ Dario, acho que tem sentido o que ela disse. E ela não vai estar sozinha nisso. Terá maior proteção.
─ Tenho outra idéia...─ continuou─ tem uma pessoa que pode nos ajudar.
─ Quem?─ perguntou ambos.
─ Lisa!
─ Por que você acha que ela nos ajudaria?─ perguntou Mariana.
─ Porque ela me odeia... e se ela achar que estou desesperada para salvar Dario... a ponto de terminar tudo com ele e me entregar, acho que ela nos ajudará sim.
─ Essa idéia é a mais louca que já ouvi!─ exclamou Dario.
─ Dario, eu gostei da idéia de Serena. Já parou para pensar que enquanto Ricardo não estiver preso, vocês não terão paz?
Ele ficou quieto. Sabia que esse era o ponto fraco da questão.
─ Mas tem uma forma mais eficaz de fazer Lisa falar. ─ continuou Mariana.
─ Qual?─ perguntou Serena.
─ Dario! Pelo que sei, ela tem uma queda por ele. Acho que será mais fácil se ele der a entender que Lisa ganhará “pontos” com ele se ajudá-lo a pegar Ricardo. Ela sabe que ele está trabalhando nisso há tempos.
─ O que?─ dessa vez, foi Serena quem exclamou.
Não estava gostando nem um pouco da idéia de imaginar Dario dando em cima da Lisa. Lembrava muito bem de como ela se vestira para seduzi-lo.
─ Serena, pensa com calma.
Ela ficou quieta. Sabia que Mariana tinha razão e afirmou com a cabeça.
─ Dario?
Ele olhou para Serena antes de responder. Ela tinha os olhos brilhando de raiva e a boca trincada. Claramente estava com ciúmes.
─ Serena, é melhor assim.
─ Eu sei.─ respondeu, mal humorada.
Discretamente, deu um sorriso.
─ Então, estamos combinados. A partir de agora vocês não devem mais ser vistos juntos. Iremos designar outros policiais, que ficarão a paisana, para vigiarem Serena. E quando tivermos certeza de que todos realmente acreditam que vocês estão separados, você procurará Lisa.─ finalizou Mariana.

Passaram-se dois dias depois da conversa na delegacia e não vira Dario em nenhum momento. Nunca sentiu tanta falta de alguém como estava naquele momento. Várias vezes a noite em sua própria casa, pegava o celular para ligar, mas desistia em seguida. Sabia que precisava ser forte.

Chegou na redação e sentou-se a mesa para começar a trabalhar. Ligou o computador e abriu seu email. Ainda precisava terminar a matéria sobre o uso de drogas no parque. Estava distraída quando um entregador a procurou. Trazia um lindo buquê que rosas vermelhas. Sentiu as pernas bambas e procurou o cartão.

“Amar é uma mistura de alegria e medo; de paz por um lado e ameaça de guerra pelo outro. É pensar que a felicidade tem nome e endereço. É temer não estar à altura. É sofrer tanto quanto querer”. (Bruno Campel)
PS:Não vejo a hora de te ter em meus braços novamente!


Suspirando, guardou o cartão dentro de sua bolsa. Pretendia relê-lo sempre que a saudade apertasse. Voltou sua atenção para seus emails e lembrou que haveria a festa da empresa no final de semana. Teve uma idéia e sabia quem poderia ajudá-la.

─ Então você quer ajuda para comprar uma roupa para a festa?─ perguntou Mariana. As duas haviam se encontrado no shopping.
─ Isso. Eu já vi como você se veste e eu preciso de ajuda.
─ Tem certeza de que só quer minha ajuda para isso?─ perguntou, desconfiada.
─ Bem... por acaso Dario irá trabalhar neste dia?
─ Sabia!─ exclamou─ Serena, não esqueça de que foi você mesma quem sugeriu esse afastamento!
─ Desculpe, Mariana. Eu não achei que fosse sentir tanta falta dele assim.
─ Ai ai... tudo bem! Irei ajudar vocês dois. Mas me prometa que serão discretos. Durante a festa, perto dos convidados, você precisa ignorar Dario.
─ Pode deixar comigo. Então... me ajuda a escolher uma roupa bonita?
─ Bonita só?
O rosto de Serena ficou vermelho.
─ É que me visto de forma bem simples. Queria um vestido que me valorizasse mais...
─ Sei... você quer é seduzir Dario!─ disse Mariana, rindo.─ Então vamos lá!

Uma hora mais tarde, Serena chegava a redação com várias sacolas na mão. Colocou tudo no chão e tentou voltar sua atenção para o trabalho. Mas antes pegou novamente o cartão que viera com as flores e leu.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CAPÍTULO XVII (FINAL)

Vendo que não tinha alternativa, narrou os acontecimentos. Ficou de cabeça baixa esperando a explosão dele. Mas ele ficou em silêncio. Pegou a bolsa dela, trancou o carro e a levou para o próprio.
─ Aonde vamos?─ arriscou perguntar.
─ Para a delegacia. Você vai prestar queixa e fazer um exame de corpo de delito. Isso vai ser o suficiente para ser emitido um mandado de prisão para este canalha.
─ Dario, isso é mesmo necessário? ─ perguntou, já sabendo a resposta. Não queria enfrentar um interrogatório, muito menos um exame.
─ Sim.
Fizeram o resto do caminho em silêncio.
─ Serena, eu preciso saber... aconteceu algo mais hoje?
─ Como assim, Dario? Eu contei já.
Ele apontou para sua saia rasgada.
─ Ah...bem... isso é um pouco constrangedor...─ disse colocando as mãos nos olhos.
─ Porque? Não quer falar comigo sobre isso?─ sua voz estava doída.
─ Não é isso. Não quero que você fique se martirizando imaginando coisas. Não aconteceu nada a mais. Tudo o que ele fez comigo hoje... bem, foi para procurar o celular. Mas não achou... está aqui comigo e espero que a gente consiga aproveitar alguma foto.
Mas ele não ficou mais aliviado. Esse homem se aproveitou da situação, expôs Serena e a machucou. E isso dilacerava seu coração.
─ Vamos conseguir sim, Serena.─ disse num tom mais ameno, apertando sua mão.

Três horas depois e Serena só queria tirar aquelas roupas, tomar um banho e dormir. Fizeram todo o tipo de exame, tomaram seu depoimento e ainda fez um retrato falado do suspeito. Seu celular fora levado para análise.
Estava sentada numa cadeira com um copo de café nas mãos e tinha os olhos fixados em algum ponto a sua frente, contudo não via nada. Só sentia uma espécie de desespero a beira de se manifestar. Sabia que perderia o controle logo.
─ Está tudo bem, Serena?─ perguntou uma voz feminina a seu lado. Mariana tinha passado na delegacia e acabou encontrando Dario, que lhe contou tudo.
Ela levantou o olhar, mas continuava vazio.
─ Não... estou tão cansada, Mariana.
A voz dela estava tão fraca que Mariana ficou preocupada.
─ Você não está bem! Quer que eu traga alguma coisa para você comer?
─ Só quero paz...─ disse, fechando os olhos─ Você pode me levar para casa?
Nesse momento, Dario entrou na sala.
─ Já acabamos, Serena. Vamos para casa.
Mas antes que ele levasse Serena, Mariana o chamou num canto.
─ Dario, nem sei como te dizer isso... Serena precisa de ajuda. Conheço pouco ela, mas pelo que conversamos da última vez, ela sente-se um fardo em sua vida.
─ Por que diz isso?
─ Porque ela me perguntou se eu achava que ela era um problema para você. Ainda bem fomos interrompidos pela sua mãe... porque eu teria que ser honesta e responder que sim.
─ Mariana, por favor, não piore as coisas. Vai enfiar mais problemas na cabeça dela... já não basta os que já existem e que eu luto constantemente para tirá-los.
─ Dario, mas ela está certa em perguntar... você não tem dormido direito, tem trabalhado o dobro do normal... fora que você fica imaginando se Serena está bem ou não o tempo todo...
Mas Mariana foi interrompida por um gemido sofrido ao lado deles. Sem que percebessem, Serena havia levantado e se movido para perto.
─ Ela está certa, Dario. Não posso mais viver assim... por favor...─ pediu quando ele tentou segurar seu braço─ está tudo acabado. Será melhor assim.
E saiu correndo da sala, mas ao chegar na entrada, lembrou-se de que seu carro ficara na estrada.
“Céus! Por que tudo é tão difícil?” pensou desesperada, olhando para os lados. O cansaço que sentia acertou-a em cheio, somado a infelicidade e impotência. Precisava fechar os olhos e dormir... e foi o que fez, mas antes sentiu que braços fortes a sustentaram antes de cair no chão, transmitindo uma sensação de segurança. Somente nos braços dele sentia-se assim, segura.

O céu estava estrelado e sem lua. Foi à primeira coisa que re
parou quando abriu os olhos, mais tarde naquela noite. Olhou a sua volta e viu que estava no quarto de Dario. Deu um longo suspiro de alívio, era o único lugar no qual gostaria mesmo de estar. Percebeu que estava usando apenas uma camisa dele no lugar da roupa rasgada de antes e ficou agradecida.
─ Você está melhor?─ perguntou Dario. Ele estava sentado numa cadeira ao lado da cama e acendeu a luz do abajur.
─ Estou... você está acordado até agora?─ perguntou, lembrando de tudo o que acontecera antes.
Sentou-se na cama e afastou a coberta dos pés.
─ Dei um cochilo. Vou buscar algo para você comer. Já volto.─ assim que ele disse isso, percebeu que realmente estava com fome.
Ela levantou-se da cama e foi até o quarto de Mônica. Entrou sem fazer barulho e viu Lucas dormindo serenamente ao lado de Mônica. Ele tinha o semblante de um anjo. Ficou algum tempo olhando para o rosto do irmão adormecido até sentir a mão de Dario no seu ombro.
─ Ele está bem, Serena. Não se preocupe com ele.─ disse com voz baixa.─ Venha... vamos conversar!
Voltaram ao quarto dele e Serena comeu um sanduíche.
─ Estava mesmo com fome... obrigada por lembrar.─ agradeceu, limpando a boca com o guardanapo.
─ Você não ia me contar o que houve hoje, não é mesmo Serena?─ perguntou, de repente.
Ela percebeu o quanto magoado ele estava. E triste também. Não suportava mais será causa de tantos problemas.
─ Por quê? Eu tento te entender, mas sinto que tem uma parte sua que não consigo alcançar... você não me deixa entrar... Por quê?
─ Dario, não podemos mais... ficar juntos.─ disse simplesmente, com voz baixa e sem olhar nos seus olhos.
─ Você não quer mais ficar comigo?
Reunindo toda a força que conseguiu, levantou da cama e ficou de costas para ele.
─ Não!
Um silêncio constrangedor se fez entre eles.
─ Então, você não se importaria de dizer isso olhando nos meus olhos. ─ disse ele, já a seu lado e obrigando-a a virar-se para ele.
Ele levantou o queixo dela com os dedos com muito carinho. Foi a rendição dela. Não conseguia mentir para ele e, antes que pudesse pensar, as palavras saiam de sua boca como uma enxurrada.
─ Eu sou um peso na sua vida. Não suporto mais ser um problema... minha mãe agüentou tanto para me proteger daquele... daquele se nomeia meu pai... sacrificou-se tanto... para que? Para ser infeliz e depois morrer numa busca insana por algo que não entendo bem ainda... E agora eu vejo você cansado e preocupado o tempo todo comigo... você está dormindo pouco e se algo acontece comigo, sente-se culpado... não posso mais permitir isso, Dario! Não posso impor a minha presença assim a alguém... sou um peso! Um peso com uma criança pequena, que terei que criar como filho... não quero te impor isso... não suporto!─ ao final tinha lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
─ Você não sabe o quanto eu fico feliz por ouvir isso... finalmente você deixou eu entrar no seu coração. ─ foi apenas o que ele disse.
Ela o olhou sem entender, tentando limpar as lágrimas.
─ Você me ama, Serena? Você está disposta a lutar por nós?─ perguntou, carinhoso.
─ Eu estava... mas não quero te pedir isso.
─ E você não precisa me pedir porque eu já estou lutando por você. Cada segundo que passa, estou lutando para fazer você entender o quanto amo você, Serena. Quero fazer você esquecer tudo de ruim que o crápula do seu pai fez você e seu irmão passar.─ ele abraçou e beijou sua testa─ Quero fazer você entender que tudo o que faço é pensando em sua proteção... E sabe por que?
Ela fez que não com a cabeça, sentindo os olhos cheios de lágrimas novamente. Nunca sentiu seu coração bater tão apressado e violento assim.
─ Porque não consigo mais viver sem você. Só existe você na minha vida.... quero viver com você... quero ser o pai que o Lucas não teve... quero ajudar você nessa responsabilidade que te foi imposta. Serena, quero começar uma família com você. Com Lucas e nossos filhos. Você consegue entender o que estou tentando te dizer?
A voz dele era ansiosa. Serena estava muito emocionada e soluçava no ombro dele.
─ Eu te amo tanto, Dario. Não consigo imaginar minha vida mais sem você.─ rendeu-se, afinal.─ Sou sua, sempre fui sua.
─ E sempre será, Serena!
Ele secou as lágrimas de seu rosto com beijos até encontrar os lábios dela. Serena correspondeu ao beijo com paixão.
─ Dario, faça amor comigo.
Naquela noite, eles fizeram amor de forma lenta e apaixonada. Dois amantes que se desejavam com paixão violenta, mas também com muito amor. Só foram dormir quando o dia estava amanhecendo. Dormiram abraçados e mais apaixonados do que nunca.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CAPÍTULO XVII

─ Então? Qual a sua explicação? O que faz invadindo minha casa? Expondo a Serena desse jeito?─ perguntou, fazendo muito esforço para não gritar. A última coisa que queria agora era acordar a mãe e assustar ainda mais Serena.
─ Calma, Dario! Você está muito nervoso... apesar de eu já imaginar, agora tive a certeza de que vocês estão juntos. Tenho que admitir, você não é bobo. Ela é bem... digamos... gostosa...─ foi interrompido por um soco que levou no rosto. Dario não agüentou mais e partiu para cima do “colega” de trabalho.
─ Opa, não quis te ofender, Dario. Você está com a cabeça quente... por isso não vou te dar o troco. Eu vim aqui porque Ricardo foi visto na cidade vizinha. Achei que gostaria de saber. Adeus!
Jean virou as costas e saiu pela porta lateral da casa. Mas Dario estava longe de estar calmo. Sentou numa cadeira próxima da piscina, mas conforme foi pensando no que ouvira, calmo era a última coisa que iria sentir.
Como Jean soubera dessa informação tão rápido, se o seu amigo havia dito de forma confidencial há poucas horas apenas? E como conseguira entrar na sua casa sem ser anunciado?
Mas iria tirar essa história a limpo. E isso significava que precisava dar mais segurança a Serena e Lucas. Pessoas próximas a ele estavam envolvidas.

Serena abriu os olhos e viu que o sol já estava alto no céu. O relógio marcava sete horas da manhã apenas e estava sozinha na cama. Ela lembrou que havia se deitado para esperar por Dario, mas o cansaço venceu a luta contra o sono.
Relembrando os últimos acontecimentos, sentou-se na cama e decidiu o que iria fazer. Dario havia deixado um bilhete para ela dizendo que ia cedo para delegacia para resolver um problema. Já conhecendo ele, sabia que ele estava nervoso com o que tinha acontecido na noite anterior. E isso tinha que parar.
Mônica se ofereceu para levar Lucas à escola e Serena seguiu para o trabalho. Sentou-se em frente ao computador e pegou o papel com o email do amigo de Dario. Abriu seu email e leu a mensagem que a festa da empresa estava marcada para o final de semana. Mas não ficou entusiasmada com a notícia.
“Olá Júlio, aqui é Serena. Precisava falar com você sobre Ricardo. Dario não pode saber de nada por enquanto. Ligue-me assim que puder.” Digitou essa mensagem e deixou o número do seu celular. Feito isso, resolveu ocupar sua cabeça com o trabalho. Anotou uns endereços para umas entrevistas e saiu do Jornal.
Passou a manhã e parte da tarde na rua, coletando informações acerca de uma denúncia de usuários de drogas no parque principal da cidade. Estava guardando sua bolsa no carro quando Júlio ligou.
“Oi, Serena! Tudo bem? Confesso que fiquei surpreso com seu email.”─ disse ele.
“Você não falou nada para Dario, não é?”
“Não... ainda não.”
“Podemos nos encontrar em algum lugar para conversar? Eu li o email que você mandou para Dario... sobre ter visto Ricardo e como poderia me usar para prendê-lo...”
“Eu não quis dizer...”
“Não se preocupe, eu entendi bem o que você quis dizer... e se posso ser útil, vou ser. Dario não pode saber disso de jeito nenhum... ele nunca compreenderia... você entende?”─ sua voz falhou um pouco.
“Sim. Vou pensar. Mas seria bom nos encontrarmos mesmo.”
“Amanhã irei até aí depois do trabalho.”
“Não. Eu a procuro no trabalho, já tenho seus dados. Não se preocupe. Espere-me amanhã.”


Dando um suspiro prolongado, voltou a abrir a porta do carro para entrar, mas notou a presença de um homem a pouca distância dela. Não conseguia vislumbrar a face do homem e sentiu um arrepio na espinha. Fechou a porta do carro novamente e fingiu que estava distraída num outro telefonema. Deu alguns passos distraidamente para ficar numa posição de mais fácil visualização e apertou a tecla da câmera de seu celular. Do melhor jeito que pôde, tirou algumas fotos sem levantar suspeitas e sem saber se estava tirando alguma foto boa. Mas alguma coisa chamou a atenção dele e, quando este deu alguns passos, Serena ficou desesperada. Fez a primeira coisa que passou pela sua cabeça e jogou o telefone debaixo do carro de forma mais escondida possível. Feito isso, correu dali.
Era final da tarde e já estava escurecendo. O parque ficava amedrontador no escuro e a mente de Serena já voltava para a noite que fugia com Dario sob chuva na escuridão. O homem, porém, foi mais rápido e logo a alcançou. Na corrida ele a agarrou e puxou sua saia que rasgou na altura da coxa. Foi quando foi derrubada no chão e se viu presa pelos braços daquele homem que pareciam aços.
─ Melhor ficar quietinha, Serena. Quer acabar como sua mãe? ─ a mesma voz que a atormera tanto.
─ Largue-me! Você pensa que vai escapar?─ Serena estava gritando. Não estava com medo naquele momento, apenas uma raiva imensa.
─ Vou escapar sim. Quanto a você... não tenho tanta certeza! ─ respondeu o homem, apalpando o corpo dela.
─ O que você pensa que está fazendo? Solte-me!
─ Onde está?Eu vi que tirou fotos!
─ Não sei do que está falando!
Mas o homem não a escutava, procurava o celular dela de forma bruta e rasgou a blusa dela na busca.
─ Ricardo que mandou você me vigiar?
─ Pena que não posso brincar com você como gostaria... acho que essa parte é com ele mesmo.
─ Como faço para encontrá-lo?
─ Você pensa que sou burro, garota? Aquele seu namoradinho ta em cima da gente... quem sabe ele não é o próximo? Ele sempre atrapalhou tudo, mas agora... por sua causa, o cerco se fechou.
─ Ele não é meu namoradinho... por favor, deixe-o fora disso.
Mas foram interrompidos por barulhos de passos. Com medo de ser algum policial, o homem a largou e deu um último recado:
─ Eu volto! Fique certa disso.
Ela ficou ainda por alguns minutos, sentada no chão e abraçando o corpo. Sua cabeça estava vazia. Não conseguia pensar em nada. Apenas quando o sol se pôs que acordou para a realidade.
“Ai, meu Deus... Lucas!” pensou desesperada. Correu de volta para o carro, olhando para os lados a todo momento. Achou o celular e se trancou dentro do carro. Tinha ligações perdidas de Dario.
“Ele deve estar desesperado!” pensou, nervosa, antes de ligar o carro e discar o número da Mônica. Por sorte, ela já tinha ido buscar Lucas.
“Serena, minha filha! A escola me ligou, Lucas está aqui comigo. Aonde você está? Dario está igual louco te procurando.”
“Estou bem, Mônica. Precisei resolver um problema e perdi a hora. Obrigada por ter buscado Lucas para mim... passo aí daqui a pouco. E vou ligar para Dario.”
Mas nem foi preciso, uma sirene a fez olhar pelo retrovisor e viu um carro de polícia logo atrás. No mesmo instante, seu celular tocou.
“Oi Dario, desculpe-me... eu tive um contratempo... foi só isso...” Ela nem percebeu o quanto sua voz estava trêmula.
“Serena, encoste o carro.” Foi a única frase que ele disse.
“Não quero te atrapalhar, Dario! Eu estou bem.” Exclamou nervosa, estava beirando a histeria. Mas se deu conta do estado que estava e simplesmente não podia deixar que ele a visse assim.
“Encoste agora, Serena!”
“Tá bom.” Foi diminuindo lentamente a velocidade do carro para ganhar tempo. Passou a mão pelos cabelos desalinhados e tentou fechar a blusa o máximo que pôde. Só então percebeu que estava com marcas vermelhas nos braços e no colo.
Encostou o carro e esperou dentro dele. Não planejava sair dele. O carro dele parou atrás. Ele caminhou rápido e com a cara fechada até ela.
─ Serena, pode me explicar aonde você estava? Achei que tinha ficado claro que você não podia sair sem avisar.─ ele estava nervoso.
─ Desculpe, Dario. Eu fui fazer umas entrevistas no parque e perdi noção do tempo.─ ela falava de forma mais calma possível, mas sem olhá-lo nos olhos. Sabia que não ia conseguir.
─ Mas porque não atendeu o celular?─ perguntou, mas logo reparou como ela segurava firme a frente da sua blusa. Estava escuro e não conseguia vê-la dentro do carro direito.─ Serena, se tem uma coisa que eu aprendi é a conhecer quando fala a verdade para mim. E você está mentindo para mim agora.
Surpresa com a frase dita, de forma carinhosa, ela olhou-o nos olhos por alguns minutos, antes de desviar o olhar.
─ Sabia! Seus olhos não mentem para mim. Saia do carro, Serena... por favor, estou te pedindo.
Diante do pedido dele, sentiu os olhos marejados de lágrimas. O primeiro impulso foi ligar o carro e fugir, mas não conseguia forças para isso. Então, saiu do carro.
Dario fechou os punhos ao ver o estado em que Serena se encontrava. A sua saia estava rasgada na altura da sua coxa, sua meia calça preta estava em farrapos e a blusa devia estar rasgada.
Cuidadosamente, ele segurou sua mão, que ainda estava segurando a blusa contra o seio. A blusa se abriu, expondo o sutiã rosa que usava, assim como várias marcas vermelhas.
─ Serena, o que aconteceu? Por favor, não minta!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CAPÍTULO XVII

Contra sua vontade, Serena acabou cochilando. Abriu os olhos com certa dificuldade e reparou que o quarto ainda estava na penumbra, indicando que ainda era noite. Dario dormia ao seu lado em sono profundo. Tinha que olhar o computador antes que ele acordasse. Quando entrou no quarto algumas horas antes, percebeu que Dario lia algo desagradável, o que foi confirmado quando desligou rapidamente a tela.

Levantou da cama de forma silenciosa e vestiu a primeira coisa que achou no escuro, que era a blusa de Dario. Ainda olhou para ele adormecido para certificar-se de que não iria acordar, pegou seus óculos na bolsa e ligou a tela do computador. Leu rapidamente a mensagem do amigo dele e entendeu porquê ele estava preocupado. Mas era exatamente o que ela tinha em mente. Anotou num papel o email do amigo dele. Iria mandar um email para ele do trabalho e fazer as coisas do jeito dela e, se necessário, escondido de Dario.

Como estava com sede, saiu do quarto silenciosamente e desceu para a cozinha. Pegou um copo de água e foi para a piscina. Pensava em dar um mergulho, mas não queria fazer barulho e estava sem roupa de banho. Sentou-se na beirada da piscina e ficou olhando a água, pensativa. Por isso, não escutou o barulho de passos.
─ Perdeu o sono?─ Dario estava a seu lado, vestindo apenas um short.
─ Estava com sede...
Ele sentou-se a seu lado, mas estava desconfiado de que ela tinha lido seu email. Sabia que ela não teria posto os óculos se não fosse ler algo.
─ Tem certeza?
Ela olhou para ele, surpresa com a pergunta.
─ Como assim?
─ Tem certeza de que só estava com sede?
“Dario não é bobo.”
─ Na verdade eu tava pensando em mergulhar... mas não trouxe roupa de banho.─ tentou desconversar.
─ O quarto da minha mãe é de frente... e ela tem sono pesado.
No minuto seguinte, ele estava nu na sua frente. Ela não cansava de admirar o corpo bem feito dele.
─ Dario, não acho uma boa idéia...─ não se sentia confortável em mergulhar sem roupa com ele. Ficaria muito exposta.
Sem dizer nada, ele a fez levantar e a beijou lentamente.
─ Não é justo... ─ reclamou ela.
─ O que não é justo, meu amor?─ perguntou ele, docemente.
─ Eu não consigo pensar direito com você me beijando assim...
─ Então não pense...
Quando se deu conta, também estava sem roupa e dentro da piscina com ele.
─ Você é louco...─ disse, com a voz doce e puxando ele pelo pescoço.
─ Só se for por você.─ respondeu, beijando-a e pressionando seu corpo contra a parede.
Mas um barulho nos arbustos assustou a ambos. Rapidamente, Dario saiu da piscina, vestiu o short e foi averiguar o que havia causado o barulho. Lamentou não estar com sua arma por perto. Não achou ninguém ali por perto.
─ Serena, fiquei aí dentro que já volto.Escutou? ─perguntou com voz séria.
Ela ficou quieta dentro da piscina e olhou a sua volta. Alguns galhos mexiam levemente no lado esquerdo da casa. Sentiu um arrepio subir pela espinha ao pensar em quem poderia ter estado ali, observando tudo. Resolveu sair da piscina e procurar Dario, pois estava com medo. Pegou a blusa que vestia e, quando ia vestir, escutou passos pertos.
Quando virou, avistou um homem caminhando em sua direção e com a arma em punho. Com o susto, largou a blusa e, só percebeu a situação quando Dario apareceu, logo em seguida.
Ele gritou para o homem sair dali e parecia muito irritado. Foi só então que se deu conta que estava nua e o tal homem a olhava com um sorriso irritante nos lábios. Abaixou-se e pegou a blusa para se cobrir.
─ O que você está fazendo aqui, Jean? O que pensa que está fazendo entrando na minha casa, invadindo minha privacidade?─ Dario gritava para o homem.
Quando ele viu Serena nua e em pé na frente de Jean, sentiu o sangue fervilhar nas veias. Ele segurava a arma e tinha assustado ela, o que o deixou com uma ira que era incapaz de mensurar.
─ Serena, vá para o quarto. Vou resolver isso aqui e já vou. ─ disse, numa voz mais calma para não assustá-la, envolvendo-a com uma toalha de banho, como se quisesse protegê-la do olhar daquele homem.
─ Está tudo bem.─ disse ainda. Ela o olhava sem entender o que estava acontecendo ali. ─ Já te encontro lá em cima.
Assim que ela desapareceu pela porta, ele se virou com fúria no olhar para o homem parado ali na sua área.

sábado, 30 de outubro de 2010

CAPÍTULO XVI (FINAL)

Entraram no quarto e, enquanto a colocava no chão delicadamente, fechou a porta com a mão livre. Sem saber como, ela se viu pressionada contra a porta, esmagada pelo corpo quente de Dario. Os lábios exigentes dele tomaram os dela e ela sentiu o mesmo fogo que o consumiu.
― Dario...― murmurou ela antes que se perdesse completamente a razão― Você me dá um minuto?
― Eu só queria tomar um banho e trocar essa roupa... estou o dia todo com ela.― explicou rapidamente.
― Quer companhia?― perguntou ele, sem soltar o corpo dela. A voz dele era muito sedutora.
Ela lembrou-se imediatamente dos momentos que viveram na casa de Dimitri no chuveiro e sentiu o corpo ficar trêmulo.
― Dessa vez não... estou precisando me refrescar primeiro
Serena sentiu que estava tensa enquanto a água escorria pela suas costas. Havia algo que ocupava uma pequena parte de sua mente, mas não deixaria isso a atrapalhar essa noite. Pensaria nisso depois.
Tirou de sua bolsa uma camisola que trouxera para dormir. Era bonita, mas não era muito sedutora. Não tinha muitas roupas assim e se perguntou se Dario sentia falta disso.
Deixando de lado tais pensamentos, pegou sua bolsa e saiu do banheiro. Quando entrou no quarto, Dario já tinha trocado de roupa e estava lendo alguma coisa na tela do computador. Usava apenas um short e sentiu que ruborizava um pouco ao ver aquele peito forte nu, como sempre acontecia. Para disfarçar, fechou a porta e colocou a sua bolsa no canto do quarto.
― Será que Lucas não está dando trabalho para sua mãe?

Dario lia um email que recebera com novas informações sobre Ricardo. Ele foi visto na cidade que Serena morava e foi reconhecido por um policial amigo. Mas o amigo estava à paisana e, quando tentou se aproximar, Ricardo fugiu e sumiu novamente.

“Ele nem tentou se disfarçar, Dario. Estava perto da antiga residência da sua amiga Serena. Melhor ter cuidado porque deve estar planejando algo. Se quer minha opinião, podemos usá-la como uma isca. Ela estará protegida e o pegaremos...”.

Dizia um trecho do email, deixando-o irritado. Seu amigo devia estar louco de sugerir algo assim. Mas antes que pudesse ler mais alguma coisa, Serena entrou no quarto usando apenas uma camisola. Desligou rapidamente a tela do monitor e observou ela. Serena tinha um encanto natural, não precisava de nada mais. Usava uma camisola preta curta e sem mangas, não era necessariamente sexy. Mas ela não precisava de nada disso para ser sensual. Ele ficava encantado com sua naturalidade e o jeito como suas bochechas ficava ruborizadas. Tinha quase certeza de que isso nunca iria acabar.
― Creio que não precisa se preocupar com isso. Estive pensando...
― Em que?― perguntou, aproximando-se. Tinha quase certeza de que ele ia voltar ao assunto que a atormentava e não queria falar sobre isso naquele momento.
Passou os braços ao redor do seu pescoço e o beijou lentamente, provocando-o. Sentiu que tinha vencido quando as mãos dele desceram por suas costas até pararem nas suas nádegas.
― Então?― perguntou ela, interrompendo o beijo.
Mas ele apenas murmurou algo e a abraçou novamente. O beijo dessa vez foi mais violento. Sua língua invadia a boca dela como se ela fosse desaparecer a qualquer momento. Sentiu quando ele tirou sua camisola e a levantou do chão para colocá-la na cama.
Serena agora sentia uma urgência crescente. Com as mãos trêmulas, desceu pelo peito forte até encontrar a prova de que ele estava tão excitado quanto ela. Sentiu que ele prendeu a respiração e deu um leve gemido.
― Assim não agüento, Serena...
― Não quero que agüente.
E ela não precisou pedir mais. Dario enterrou-se no corpo macio dela repetidas vezes até que ambos atingissem o clímax juntos.
― Eu te amo tanto, Dario...― murmurou ela, antes que seus olhos se fechassem cansados.
Dario ficou deitado ao seu lado o resto da noite, abraçando seu corpo e olhando para seu rosto adormecido. Ele ia perguntar se ela e Lucas não queriam morar com ele, mas Serena pareceu ter fugido da pergunta. E ele se perguntava se ela sabia de suas intenções ou foi apenas coincidência.

sábado, 23 de outubro de 2010

CAPÍTULO XVI

O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.
Clarice Lispector


Dario havia chegado um pouco mais cedo propositalmente. Estacionou o carro e foi conversar com o segurança do prédio para averiguar se estava tudo tranqüilo. Aliás, essa era a palavra que definia tudo o que ele não sentia desde que Serena havia voltado a sua rotina. Seus anos de trabalho lhe diziam que Ricardo não ia deixar essa história barata.
― Por aqui tudo tranqüilo, Dario.― respondeu o segurança, já acostumado com as visitas inesperadas do amigo de trabalho.
Quando se dirigia a entrada principal avistou Serena e, ao mesmo tempo, viu um homem estranho ao seu lado segurando seu braço.
― O que está havendo aqui?― perguntou, tentando parecer o mais profissional possível.
Dario percebeu que ele foi embora rápido demais quando o viu. Mas quando viu a expressão horrorizada em Serena, teve certeza de que esse homem traria problemas. O certo seria ir atrás dele, mas não podia deixar ela assim.
― O que houve, Serena? Você conhece esse homem?― perguntou, segurando suas mãos.
Mas parecia que ela não ouvia suas palavras. Seu olhar estava vazio e perdido.
― Serena!― chamou de novo, dando uma leve chocalhada em seus ombros.― Ele fez algo com você? Vou atrás dele...
Mas a última frase a trouxe para a realidade. Sua mente tinha voltado no passado, mas especificamente na noite em que a mãe morrera.
― Não! Ele é perigoso...― cortou a frase no meio quando percebeu o papel em suas mãos.
Dario também percebeu o papel e pegou da mão dela rápido. Ela podia ver as veias saltando do seu pescoço enquanto lia o que estava escrito, o que indicava que estava nervoso.
― O que foi, Dario?
― Vamos sair daqui para conversarmos. ― disse simplesmente, conduzindo-a pelo braço até seu carro.
Foram em silêncio até um restaurante. Tinha perdido o apetite totalmente, por isso pediu apenas um suco de laranja.
― Eu não conheço aquele homem, Dario... mas reconheci sua voz.― começou a dizer.
― De onde?
― Ele foi o homem que matou minha mãe... a voz que ouvi no último telefonema que ela me deu. Tenho certeza!
Silenciosamente, ele passou o papel para sua mão.
“Se tem amor a sua vida, mude de cidade novamente.”
― Se tem amor a sua vida... é ele Dario... foi o que eu ouvi ele dizendo a minha mãe... que ela não tinha amor a vida.
Surpreendentemente, estava se sentindo calma o suficiente para pensar com clareza. Podia perceber a perturbação de Dario e sabia que ele ia querer levá-la para algum outro esconderijo.
― Dario, não vou me esconder... não vê a oportunidade? Podemos pegar ele! Aposto que Ricardo está por trás disso também.
― Você não está me dizendo que vai ser uma espécie de isca?― perguntou, a voz um pouco elevada. ― Você acha que vou deixar você se arriscar novamente, Serena? Já não basta o estado de aflição que passo constantemente longe de você! Tenho até receio de não estar trabalhando direito...
― Você é um ótimo policial, Dario! Ninguém duvida disso! E não quero ser um peso para você. ― disse, em tom provocativo, para ver se ele ria. Mas ele levou a sério.
― Peso? ― perguntou incrédulo.
― Bem... antes de eu chegar aqui, você tinha sua vida, sua rotina. Sei que você se preocupa demais comigo e...
Mas ela foi interrompida pelo garçom. Aproveitou para trocar de assunto.
― Vamos esquecer isso por enquanto... tenho uma novidade para te contar! Queria que fosse a primeira pessoa a saber! Fui promovida... vou ser editora chefe!― exclamou alegre.
― Que notícia maravilhosa, Serena! Temos que comemorar... podemos jantar hoje.
― Vou ligar para a babá então.― Lucas agora ficava na creche.― Mas só vai ser oficial numa festa que o diretor resolveu dar. Não sei ainda quando vai ser...
― Dario, não vou me esconder novamente!― interrompeu o que dizia, percebendo que ele não prestava nenhuma atenção.
Mas ele não respondeu, apenas assentiu com a cabeça. Almoçaram em silêncio, mas com muitas palavras e pensamentos que não externaram. Serena sabia que ele andava estressado e preocupado demais e que a causa principal era ela mesmo. Desde que ela retomou sua vida normal, ambos tinham tido poucos momentos a sós.
― Desculpe, Serena... não queria te deixar triste hoje. Fiquei muito feliz mesmo com a notícia da sua promoção.― disse ele com voz um pouco triste, quando saiam do restaurante.― Vou te levar para jantar hoje
Ela preferiu não responder como queria. Ele realmente estava afetado e parecia triste.
― Promete?― perguntou com voz doce.
― O que você quer que eu prometa?― perguntou meio desconfiado.
― Que vamos jantar, ora!― respondeu dando um sorriso, enquanto o abraçava. Propositalmente deixou seus dedos brincarem com os botões de sua blusa. Sabia que ele evitava mais intimidade quando estava de serviço, mas não pôde evitar. ― Estou com saudades de você.
De repente, de forma um pouco abrupta, ele segurou seu braço e a guiou para a lateral do restaurante, que era um local mais reservado.
― Desculpe!― disse ela, achando que ele não tinha gostado da sua demonstração pública de carinho.― Eu sei que...
Mas ele interrompeu sua frase com um beijo apaixonado e arrebatador. Ela sentia sua urgência e nada mais importava. Colou seu corpo o máximo que pôde no dele e passou os braços ao redor de seu pescoço, intensificando o beijo. Sentiu a mão dele descendo por suas costas e passando sobre o tecido fino da sua saia. Sabia que estava totalmente entregue naquele momento.
― Pareço um adolescente perto de você, Serena. ― disse ele, ofegante.― Minha vontade é arrancar sua roupa e...
Foi interrompido pelo toque do radio em sua cintura.
“Dario!Precisamos de ajuda...”
Dando um suspiro resignado, Serena encostou o rosto em seu ombro para recuperar o fôlego.
― Vá trabalhar, Dario. Estão precisando de você na delegacia.
― Vou te deixar na redação antes. Sei que você não vai querer se esconder novamente, mas vou tomar algumas medidas para sua própria segurança. Tudo bem, Serena? E preciso que você me prometa tomar mais cuidado de agora em diante.
― Está bem, Dario. Vou ter cuidado. E Lucas?
― Ele ficará bem. Vou reforçar a segurança dele.
― Dario... você não me prometeu ainda... vamos jantar mesmo hoje?
― Eu prometo tudo o que você quiser. Vou estar livre hoje a noite, não importa o que aconteça... até porque precisamos terminar o que começamos agora...― disse ele com um sorriso maroto.

Já estava no fim do expediente e Serena começava a arrumar suas coisas. O escritório ainda estava movimentado, mas algumas pessoas já se preparavam para sair. Em cima de sua mesa, havia um papel com algumas anotações que fizera num esforço enorme para se distrair. Mas sua mente estava dividida em duas coisas: o homem que encontrara mais cedo e em Dario. Queria muito ter uma amiga para conversar e tirar dúvidas envolvendo relacionamento. Sentia muita falta de sua mãe nessas horas.
Dando um suspiro resignado, pegou sua bolsa e dirigiu-se ao estacionamento. Enquanto procurava as chaves dentro da bolsa, escutou passos de alguém atrás dela. Tentando ficar calma, procurou seu spray de pimenta que Dario insistira muito para carregar. Quando achou, virou o corpo, pronta para atacar se necessário. Mas se surpreendeu quando viu a figura de uma mulher loira e alta sorrindo para ela.
― Mariana!― exclamou aliviada.
― Olá, Serena. Passei para ver como você estava.
― Assim, do nada?― perguntou, sorrindo de volta.
Ela não estava uniformizada. Sabia que tinha dedo de Dario no meio dessa história.
― Bem... na verdade, é isso mesmo que você está pensando. Dario me pediu que te levasse em casa. Mas antes que você fique zangada, pense que ele está nervoso com o tal homem. Até identificarmos quem ele é, melhor nos prevenirmos.
― Não vou ficar zangada. Bom, tenho um tempo ainda antes de buscar Lucas na escola. Podemos tomar um café, o que você acha?
As duas passaram no shopping e tomaram um café juntas. Conversaram bastante e Serena deixou de ter ciúme daquela mulher linda e provocativa que imaginara.
― Quando te conheci naquela situação dramática, eu só pensava em como você era bonita e como Dario apreciava sua presença... ― revelou Serena, em determinado momento.
― Nunca pensei em Dario como namorado ou amante. Ele sempre foi muito protetor e responsável. Na verdade... até te conhecer, nunca o vi assim.
― Assim como?― perguntou, antes que pudesse se conter.
― Tão preocupado com alguém, eu acho...― respondeu, meio pensativa.
Não era o que esperava ouvir e aquelas palavras aumentaram ainda mais os seus receios.
― Mariana, posso te perguntar algo? Mas gostaria de ter uma resposta sincera.
― Vou fazer o possível.
― Você acha que estou sendo um... problema para ele? Digo, estou atrapalhando o trabalho dele?
Mas antes que Mariana pudesse abrir a boca para responder, Mônica apareceu na frente das duas.
― Serena! Nossa, que bom te encontrar aqui, minha filha. Quero que vá jantar lá em casa hoje. Dario já me contou a novidade e disse que te chamou para jantar... então eu sugeri que fosse lá em casa. O que você acha? Não precisa chamar a babá não, deixa que eu tomo conta de Lucas para vocês.
Enquanto Serena aceitava a proposta de Mônica, sua mente pensava em outro problema. Mais propriamente na resposta que viu refletida nos olhos de Mariana.

Serena estava na cozinha de Mônica cortando algumas batatas, enquanto Mônica brincava com Lucas no quintal. Só faltava terminar a salada de batatas e quis ajudar de alguma forma. Colocou as fatias na panela para cozinhar e se sentou numa cadeira do quintal, observado Lucas rindo atrás de uma lagartixa.
― Você está muito pensativa, minha filha. Algum problema?― perguntou Mônica, parecendo preocupada.
Serena sabia que podia confiar nela, mas não quis preocupá-la.
― Não é nada, Mônica. Só estou cansada mesmo.
― Ainda não tivemos oportunidade de conversar depois de tudo o que ocorreu, mas estou sempre por aqui. Espero que não tenha ficado chateada por ter sugerido o jantar aqui em casa.
― Não. Por que eu ficaria?
― Bom... achei que fosse mais seguro. Dario anda tão preocupado com você e eu gosto de cuidar do Lucas.
Ao ouvir essas palavras, Serena engoliu a vontade de chorar e pediu licença para ver a panela na cozinha. Para se distrair, tirou a panela do fogo e, ao escorrer a água na pia, um pouco da água quente caiu em sua mão.
Sentindo a ardência da mão, não reprimiu as lágrimas dessa vez. Colocou a mão debaixo da água fria, mas o que mais doía era a sensação de impotência.
“Se ao menos tivesse algum jeito de eu pegar Ricardo...” pensou desesperadamente.
― Oi amor, desculpe a demora... ― começou Dario, entrando na cozinha, mas interrompeu o que dizia ao ver seu rosto molhado de lágrimas― O que houve?
Num instante ele estava ao seu lado, abraçando-a terno.
― Não foi nada...― disse numa voz hesitante. Tentou passar a outra mão no rosto para limpar as lágrimas, mas ele foi mais rápido e secou com a própria mão. Diante do gesto tão gentil dele, ela sentiu que os olhos ficavam novamente inundados.
― Eu queimei a mão na água... desculpa!― disse, lutando para não chorar mais.
Sem dizer nada, ele a levou ao banheiro para cuidar da mão.
― Você ficou chateada por não sairmos hoje? Minha mãe quis fazer o jantar e...
― Não, Dario. Estou feliz por estarmos aqui.― disse, interrompendo-o.
Mas ele a olhava desconfiado. Dario sabia que havia algo a mais por detrás das suas lágrimas. Ele conseguia ler nos seus olhos uma dúvida que ele não entendia qual era.
― Vou deixar você trocar de roupa para jantarmos. Vou ajudar sua mãe com Lucas.― disse e saiu de perto dele, antes que fizesse mais alguma pergunta.

― Serena, estou com sono...― disse o menino em voz sonolenta, no colo da irmã, depois do jantar.
Ela ficou em dúvida no que responder por que não sabia se iria dormir ali ou não.
― Mamãe, ele pode dormir com você hoje?― adiantou-se Dario.
Serena sentiu que ficava vermelha, mas procurou disfarçar. Então, Mônica subiu com ele enquanto eles arrumavam a cozinha.
― Dario, o que sua mãe deve estar pensando? ― perguntou ela, terminando de lavar o último prato.
― O que ela deveria estar pensando?― ele estava guardando os talheres distraído, mas tinha um sorrido nos lábios.
Ela ia brigar com ele, mas o sorriso dele a desarmava sempre. Pegou uma toalha de prato e jogou nele, fingindo-se de brava.
― É mesmo... ela não vai pensar nada, já que vou dormir no quarto de hóspedes não é mesmo?― perguntou, disfarçando um sorriso e seguiu em direção as escadas.
Mas antes mesmo que conseguisse chegar as escadas, sentiu a mão quente dele em sua cintura.
― Você não está falando sério, está?― perguntou, meio em dúvida.
Ela ainda ia brincar com ele mais um pouco, mas foi impossível desviar os olhos dos dele.
Ao invés de responder, ela colou o corpo no dele e o beijou rapidamente.
― Não. Também quero terminar o que começamos mais cedo. ― disse em voz baixa.
Ele a pegou no colo e ela segurou uma risada, com medo de Mônica escutar.
―Você é louco! Sua mãe está aqui com Lucas!
― Já sou bem grandinho, Serena.
― Eu sei...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CAPÍTULO XV (FINAL)

Os três tomaram café-da-manhã juntos, parecendo uma família. Lucas gostava muito de Dario, o que completava a felicidade de Serena.
― Você vai precisar voltar para a delegacia, Dario? ― perguntou, após o café num tom meio triste.
― Não... preciso de um...hã... descanso.― respondeu com voz marota. ― Hoje vou deixar meus problemas de lado.
Ela lhe deu um sorriso lindo e feliz.
― Minha mãe vai tomar conta de Lucas, Serena. Pensei que a gente pudesse jantar juntos hoje. O que você acha? Quero conversar com você a sós. ― foi o que ele disse, após o café da manhã.
Dimitri, que já havia acordado e tomado o café, entrou na cozinha neste momento, interrompendo a conversa dos dois.
― Que bom que ainda está aqui, Dario. Preciso te mostrar uns papéis. Prometo não tomar muito o seu tempo.
Percebendo seu olhar indeciso, Serena disse para ele ir, enquanto ela cuidava de Lucas e das malas.
Uma hora depois, a pedido de Dario, Mônica chegou e ficou com Lucas. Serena já havia deixado tudo arrumado para a volta ao lar e resolveu tomar um banho. Só então percebeu que havia algumas manchas nas suas coxas e no lençol. Sentindo seu rosto ficar rubro, mesmo estando sozinha no quarto, tirou o lençol, dobrou e guardou numa bolsa. Sentiu-se uma idiota por não ter lembrado isso antes. Estava abrindo a mala para pegar uma muda de roupa limpa quando Dario entrou no quarto, sem fazer barulho.
― Já tomou seu banho, Serena?― perguntou ele, ao seu lado, assustando-a como sempre.
― Dario! Você precisa parar com essa mania de chegar sem fazer barulho.
Ele deu uma risada e a abraçou.
― Por que? Adoro seu rosto assustado... então, já tomou seu banho?
― Bem... não...
― Que bom...
Percebendo suas intenções, Serena disse rapidamente, um pouco nervosa:
― Dimitri não precisa mais de você?
― Não.
― Tem certeza?
Dario percebeu algo de estranho no tom de voz dela e, levantando seu queixo com a mão, perguntou o que havia de errado.
― Nada, Dario. Só não quero atrapalhar seu trabalho. ― responder rápido e afastando-se.
― O que foi, Serena? Acho que você não precisa mais ser tão reservada assim comigo!
Ela suspirou e sentiu-se mais ridícula ainda.
― Dario, você vai me achar muito boba...
― Nunca! Amo você demais, Serena. Depois de tudo o que vivemos ontem, nunca mais poderia achá-la boba.
― Mesmo depois de todas as outras mulheres experientes...
Ele pôs um dedo em sua boca, silenciando-a.
― Que mulheres? Só você importa para mim...
Dario, então, a trouxe para junto do seu corpo e a beijou apaixonadamente. Sua mão já desatava o nó do robe, quando sentiu a mão trêmula dela na sua.
― O que há, Serena? ― perguntou com a voz rouca.
― Posso entrar no banheiro... antes?
― Eu pensei em entrar com você... você não quer? Eu te machuquei, Serena? Diga-me a verdade!
― Não! Claro que não... é que só agora percebi... que estou um pouco... eu tinha esquecido disso. Sou muito boba!
Só levou uns poucos segundos para ele conseguir entender o que a afligia.
Sem dizer mais nada, a pegou no colo e a levou ao banheiro.
― Vamos tomar banho juntos... eu vou te limpar. Não quero mais que você tenha vergonha comigo.
E assim, entraram no banheiro juntos. Dario foi muito cuidadoso e carinhoso com ela. Sabia que precisava ter paciência com ela. Depois do banho, ambos se entregaram a uma longa tarde de amor.


Serena tamborilava os dedos ansiosamente na sua mesa. Estava nervosa e não conseguia esconder. Na tentativa de se acalmar, olhou a sua volta e percebeu que estavam todos trabalhando normalmente no escritório. Era o seu primeiro dia de trabalho após o tempo que ficara escondida. Sua matéria tinha saído como notícia de primeira folha três dias antes e muitos funcionários se perguntavam como isso podia ter acontecido dentro do próprio jornal. Na opinião de Serena, foi uma virada de jogo estratégica a publicação da matéria denunciando todo o esquema do tráfico. Mas não era isso que preocupava Serena.
Ricardo Gray ainda estava desaparecido e faltavam algumas peças do quebra cabeça. Ela já tinha retomado sua vida normal há alguns dias, mas o fantasma desse homem ainda a perseguia. Quando estava escondida, tudo o que mais queria era voltar a sua vida normal, mas tinha que reconhecer que se sentia mais protegida na casa de Dimitri. Nesse dia, especificamente, estava sentindo uma sensação diferente, como se algo fosse acontecer. Claro que nunca ia dizer isso para Dario, pois ele já andava preocupado demais. Pensar em Dario sempre a fazia relaxar, então voltou sua atenção novamente para a tela do computador.
― Serena Hill!― alguém chamou seu nome.
Quando levantou o rosto em direção a voz, viu a secretária do diretor geral ao seu lado. Era uma mulher já idosa e, apesar do tamanho miúdo, muito decidida.
― Sim?
― O sr. Silva quer falar com você. Está ocupada?― perguntou levantando a sobrancelha.
― Não, claro que não.
― Então me acompanhe, por favor.
As duas caminharam silenciosamente pelo corredor até o elevador.
― Bela matéria, Hill. Como se sente com o sucesso?
― Bem... eu tinha motivos pessoais envolvidos. Mas não posso dizer que estou satisfeita ainda.
― Entendo. Mas logo vão prender Ricardo Gray. Ele enganou a todos. O Sr.Silva não gostou nem um pouco de ter um funcionário desse porte envolvido nessa história toda, mas você soube virar o jogo. Acho que terá uma boa recompensa. Bom, chegamos... pode entrar, Serena. Ele te espera.
Serena passou a mão no cabelo, tentando arrumar da melhor forma possível, e entrou na ampla sala iluminada do diretor. Caminhou até a mesa central, onde havia um homem calvo sentado falando no telefone. Quando chegou perto, o homem fez um gesto para ela se sentar.
― Eu estava querendo muito te conhecer, Serena. ― disse ele, assim que desligou o telefone― Desde que sua matéria foi publicada, meu telefone não pára de tocar. Confesso que ficamos chocados com tudo o que aconteceu, mas foi uma vitória nosso próprio jornal denunciar isso tudo. Sei que você começou a trabalhar aqui tem pouco tempo, certo?
― Sim.
― Não disponho de muito tempo, mas gostaria de ouvir um pouco da sua história. O que a levou a investigar essa história?
Serena olhou para o diretor a sua frente e pensou no que dizer. Nada mais a impedia de falar a verdade, então narrou rapidamente os acontecimentos envolvendo a morte de sua mãe. Como sempre acontecia, emocionava-se quando falava da mãe. Era uma mistura de emoções que não conseguia distinguir.
― Serena, então tudo foi muito pessoal para você. Foi muita sorte você ter vindo parar aqui então, no meu jornal. Por isso, sem mais delongas, tenho uma proposta para você. Com a saída de Ricardo Gray, estou precisando de um novo editor-chefe na redação. Sei que você não está aqui há tanto tempo quanto alguns funcionários, mas você fez por merecer... então, quer ser a nova editora?
Serena ficou visivelmente surpresa.
― Nossa... claro que quero. Será um novo desafio para mim. Nem sei como agradecer.
― Você fez por merecer, Serena. Não estou fazendo nenhum favor. Estou organizando uma festa de comemoração pelo sucesso do jornal... até para abafar também comentários negativos... provavelmente será nessa semana ainda. Minha secretária está terminando os preparativos e deve mandar um email para todos os funcionários ainda hoje. Peço que espere até a cerimônia para eu anuncie essa decisão.
― Tudo bem, Sr. Silva.
― Só te peço uma coisa, Serena. Não se acomode como o fez Ricardo. Não perca esse seu espírito investigativo.

Já era perto do horário do almoço quando Serena recebeu uma mensagem no seu celular.
“Vamos almoçar juntos? Te pego aí as 13hrs!”
Sempre que Dario conseguia uma folga na delegacia, passava no escritório para vê-la. Perto das 13 horas, ela foi ao banheiro para lavar o rosto e retocar a maquiagem. Sentia necessidade de ficar bonita para ele. Quando foi em direção a porta da entrada do prédio, passou pela sala que era do Ricardo e sentiu um calafrio. Novamente uma sensação ruim se apoderou dela.
Apressou o passo e afastou os pensamentos ruins. Quando passou pela porta giratória, avistou a viatura de Dario parada na rua mas estava vazia. Abriu sua bolsa para procurar seu celular e não percebeu a presença de uma figura masculina parada a alguns metros de distância. Mas sentiu a presença deste quando se moveu e ficou a poucos centímetros de distância. Achando que era Dario, Serena virou o corpo rápido e acabou trombando neste homem, que para evitar que ela caísse no chão, segurou seu braço.
― Perdão, senhorita... ― disse o homem, em voz baixa.
Serena olhou para o homem com horror. Essa voz ela reconheceria em qualquer lugar. Essa voz estava marcada na alma dela.
― Solte-me!― disse em voz baixa para ele, não conseguindo forças para gritar, mas sentindo repulsa do toque daquele homem.
O homem a olhou com certa surpresa, mas deu uma leve risada.
― Tem certeza?― perguntou, apertando os dedos no seu braço.
Como resposta, ela tentou soltar o braço sem sucesso.
― O que está havendo aqui?
Para alívio de Serena, Dario estava parado a seu lado e olhava fixamente para o homem que ainda segurava o seu braço.
― Só estava ajudando a moça aqui...― disse o homem soltando o seu braço, mas colocou algo em sua mão antes de ir, num movimento rápido e discreto.

terça-feira, 21 de julho de 2009

CAPÍTULO XV

O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá, mais se tem.
(Saint Exupèry)



Serena abriu os olhos com dificuldade por causa da claridade e se espreguiçou. Apesar de certa confusão mental, lembrou-se do que tinha acontecido. Sem conseguir evitar, seus lábios se abriram em um sorriso quando procurou Dario ao seu lado. Ele estava profundamente adormecido ainda, provavelmente devido ao cansaço acumulado do trabalho e a noite anterior.
Sem fazer barulho, ela se levantou e vestiu o hobby novamente. Já passavam das oito da manhã e Lucas já estava acordado em sua cama. Como ainda usava fralda para dormir, Serena tirou sua fralda e desceu com ele no colo para preparar o café-da-manhã.
─ O que quer comer hoje, meu amor? ─ perguntou, feliz ─ Hoje sua irmã está feliz... aproveite!
─ Feliz, Serena!! Quero cereal...
Serena pôs o cereal no pote do irmão e preparou café e panquecas.
─ Serena, vamos para casa?
─ Meu amor, achei que você estava gostando de ficar aqui...
─ Quero passear... patos!
Serena ficou muda. Não sabia o que responder ao irmão.
─ Vocês voltam para casa hoje, Lucas. ─ uma voz na porta respondeu.
Dario havia acordado e tinha escutado o final da conversa. Sabia que ambos queriam retornar a antiga vida.
─ Dario? Está falando a verdade? ─ perguntou ela, correndo para seus braços ─ Jura?
─ Juro, meu amor!
Os dois se fitaram por alguns instantes.
─ Venha... fiz nosso café! Devo chamar os seguranças?
─ Eles comem mais tarde, Serena! ─ respondeu, duramente.
Ela deu uma risada, mas ficou quieta.

sábado, 18 de julho de 2009

Em breve novas fotos!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

CAPÍTULO XIV - FINAL

“Você está brincando com fogo, menina!” pensou Dario, enquanto seguia para um dos quartos de hóspedes. Precisava tomar um banho para se refrescar e acalmar o seu estado de excitação. Não tinha certeza se Serena sabia o que estava fazendo, por isso precisava ficar menos ansioso. Estava trabalhando tanto nos últimos tempos, e juntando com essa ansiedade, sentia uma forte tensão nos ombros. Depois de pronto, ele hesitou na hora de sair do quarto.
“Melhor esclarecer logo essa situação, senão fico louco!”

Serena estava sentada na cama vestindo apenas um hobby rosa. Estava se sentindo muito nervosa. Tinha conseguido chegar até ali e não ia desistir, mas não conseguia disfarçar as mãos frias e trêmulas. Dario estava demorando e isso a deixava mais aflita ainda.
“Será que desistiu?” pensou, antes de levantar da cama e caminhar até a porta. Colocou os dedos trêmulos na maçaneta, mas hesitou. Ficou algum tempo olhando para a porta, como se pudesse olhar através dela e sentiu algumas lágrimas solitárias descerem pelo seu rosto.
Antes que pudesse tomar alguma atitude, sentiu uma leve batida na porta. Sentindo uma felicidade grande no coração, passou as costas da mão do rosto para limpar os vestígios de lágrimas e abriu a porta.
Os dois se fitaram por um tempo, visivelmente ansiosos. Dario percebeu que ela estava nervosa pelo leve tremor de suas mãos.
─ Posso entrar?
Ela recuou para ele passar e fechou a porta. Ficou alguns segundos fitando a porta que acabara de fechar e com a mão na maçaneta. Seus pensamentos voltaram ao seu pai.
“Não! Você não vai mais atrapalhar minha vida!” pensou desesperada, sentindo os olhos úmidos novamente. Sabia que precisava exorcizar esse fantasma que era a lembrança de seu pai.
─ Sente aqui, Serena. Vamos conversar!
─ Não quero conversar mais, Dario. Estou decidida a seguir em frente. Não posso deixar que as lembranças do meu pai atormentem sempre minha vida. ─ sua voz não era mais que um murmúrio. Ela virou o corpo, de modo a ficar de frente para ele.
Dario sentiu o coração apertar ao fitá-la. Ela tinha no rosto uma expressão decidida, mas o olhar a traía com as lágrimas que ela não deixava descer. Sabia o quanto corajosa ela estava sendo nesse momento.
─ Serena, quero te dizer que não precisamos fazer nada... eu vou ajudá-la a esquecer...
Porém se aproximou alguns passos e pôs o dedo indicador em sua boca suavemente, interrompendo-o.
─ Não diga mais nada... só me beije.
Não resistindo aquele apelo, ele a abraçou com força e tomou seus lábios num beijo carinhoso. Mas ela colou o corpo no dele, desarmando-o. Com um gemido rouco, ele aprofundou o beijo, descobrindo cada canto de sua boca.
Mesmo pega de surpresa, ela não sentiu medo. Nem quando sentiu as mãos dele passeando pelas suas costas até chegarem às nádegas. Quando ele a apertou nessa região, não conseguiu evitar um gemido baixo.
─ Não quero que se envergonhe de expressar seus sentimentos, Serena... ─ disse ele baixinho, percebendo que ela evitava emitir algum som─ Gema para mim, meu amor...
Sentindo as faces vermelhas, ela assentiu timidamente.
─ Perdão... você precisa me ensinar...
─ Eu vou...
Dizendo isso, ele levou a mão até o cinto de seu hobby e o desatou. Quando ele escorregou até o chão, percebeu que ela não havia posto nada por baixo dele.
─ Você é linda, Serena!─ disse, extasiado. Ela ainda tentou se cobrir com os braços, mas ele a impediu.
Pegou ela no colo e a pôs delicadamente na cama. Também, sem nenhuma pressa, começou a se despir. Serena sentiu o ar faltando ao ver seu peito desnudo. Já tinha visto antes, mas agora era diferente. Quando expôs a prova de sua virilidade ao seu olhar, ficou admirada e um pouco assustada.
Ele se deitou a seu lado e a abraçou novamente. Dessa vez, ela passou as mãos pelo peito musculoso e costas. Queria seguir em frente, mas ficou sem jeito. Percebendo sua dúvida, ele pegou sua mão e levou até onde ela queria.
Ele estava quente e muito duro. Passou a mão por toda sua extensão e observava que ele gostava disso, o que a deixou mais confiante.
─ Assim você acaba comigo... ─ disse ele, de repente, tirando a mão dela. ─ Minha vez...
E ele cumpriu. Beijou seus lábios novamente com paixão, enquanto que suas mãos passavam por todo seu corpo. Levou os lábios a seus seios rosados e deu leves mordiscadas. Serena já não raciocinava mais, sentia o corpo arder de desejo. Mas quando ele levou a mão a um ponto do meio das suas pernas, achou que não fosse mais agüentar.
─ Dario, por favor... ─ suplicou ─ Não agüento mais!
─ Calma, meu amor... ─ delicadamente ele introduziu um dedo nela, fazendo ela soltar um gemido rouco ─ Você está pronta!
Ele tinha na voz algo triunfante e algo de felicidade.
─ Querida, olhe para mim! Quero que olhe nos meus olhos enquanto a tomo... pode ser que doa um pouco, mas prometo que passa.
─ Não estou com medo, Dario. Te amo!
Ele afastou suas pernas e se posicionou.
─ Também te amo, Serena. Mais que a minha vida!
E se enterrou em seu corpo de uma vez só. Serena sentiu uma ardência e tentou afastar o corpo, mas ele a segurou. Seu olhar dizia para confiar nele. E foi o que fez. A dor passou rápido e logo seu corpo voltou a tremer de desejo.
─ Dario, vou morrer...
─ Isso é amar, minha querida... ─ exclamou ele, entrando em êxtase junto com ela.
A lua já havia sumido do céu, quando os dois adormeceram, exaustos.