sábado, 30 de outubro de 2010

CAPÍTULO XVI (FINAL)

Entraram no quarto e, enquanto a colocava no chão delicadamente, fechou a porta com a mão livre. Sem saber como, ela se viu pressionada contra a porta, esmagada pelo corpo quente de Dario. Os lábios exigentes dele tomaram os dela e ela sentiu o mesmo fogo que o consumiu.
― Dario...― murmurou ela antes que se perdesse completamente a razão― Você me dá um minuto?
― Eu só queria tomar um banho e trocar essa roupa... estou o dia todo com ela.― explicou rapidamente.
― Quer companhia?― perguntou ele, sem soltar o corpo dela. A voz dele era muito sedutora.
Ela lembrou-se imediatamente dos momentos que viveram na casa de Dimitri no chuveiro e sentiu o corpo ficar trêmulo.
― Dessa vez não... estou precisando me refrescar primeiro
Serena sentiu que estava tensa enquanto a água escorria pela suas costas. Havia algo que ocupava uma pequena parte de sua mente, mas não deixaria isso a atrapalhar essa noite. Pensaria nisso depois.
Tirou de sua bolsa uma camisola que trouxera para dormir. Era bonita, mas não era muito sedutora. Não tinha muitas roupas assim e se perguntou se Dario sentia falta disso.
Deixando de lado tais pensamentos, pegou sua bolsa e saiu do banheiro. Quando entrou no quarto, Dario já tinha trocado de roupa e estava lendo alguma coisa na tela do computador. Usava apenas um short e sentiu que ruborizava um pouco ao ver aquele peito forte nu, como sempre acontecia. Para disfarçar, fechou a porta e colocou a sua bolsa no canto do quarto.
― Será que Lucas não está dando trabalho para sua mãe?

Dario lia um email que recebera com novas informações sobre Ricardo. Ele foi visto na cidade que Serena morava e foi reconhecido por um policial amigo. Mas o amigo estava à paisana e, quando tentou se aproximar, Ricardo fugiu e sumiu novamente.

“Ele nem tentou se disfarçar, Dario. Estava perto da antiga residência da sua amiga Serena. Melhor ter cuidado porque deve estar planejando algo. Se quer minha opinião, podemos usá-la como uma isca. Ela estará protegida e o pegaremos...”.

Dizia um trecho do email, deixando-o irritado. Seu amigo devia estar louco de sugerir algo assim. Mas antes que pudesse ler mais alguma coisa, Serena entrou no quarto usando apenas uma camisola. Desligou rapidamente a tela do monitor e observou ela. Serena tinha um encanto natural, não precisava de nada mais. Usava uma camisola preta curta e sem mangas, não era necessariamente sexy. Mas ela não precisava de nada disso para ser sensual. Ele ficava encantado com sua naturalidade e o jeito como suas bochechas ficava ruborizadas. Tinha quase certeza de que isso nunca iria acabar.
― Creio que não precisa se preocupar com isso. Estive pensando...
― Em que?― perguntou, aproximando-se. Tinha quase certeza de que ele ia voltar ao assunto que a atormentava e não queria falar sobre isso naquele momento.
Passou os braços ao redor do seu pescoço e o beijou lentamente, provocando-o. Sentiu que tinha vencido quando as mãos dele desceram por suas costas até pararem nas suas nádegas.
― Então?― perguntou ela, interrompendo o beijo.
Mas ele apenas murmurou algo e a abraçou novamente. O beijo dessa vez foi mais violento. Sua língua invadia a boca dela como se ela fosse desaparecer a qualquer momento. Sentiu quando ele tirou sua camisola e a levantou do chão para colocá-la na cama.
Serena agora sentia uma urgência crescente. Com as mãos trêmulas, desceu pelo peito forte até encontrar a prova de que ele estava tão excitado quanto ela. Sentiu que ele prendeu a respiração e deu um leve gemido.
― Assim não agüento, Serena...
― Não quero que agüente.
E ela não precisou pedir mais. Dario enterrou-se no corpo macio dela repetidas vezes até que ambos atingissem o clímax juntos.
― Eu te amo tanto, Dario...― murmurou ela, antes que seus olhos se fechassem cansados.
Dario ficou deitado ao seu lado o resto da noite, abraçando seu corpo e olhando para seu rosto adormecido. Ele ia perguntar se ela e Lucas não queriam morar com ele, mas Serena pareceu ter fugido da pergunta. E ele se perguntava se ela sabia de suas intenções ou foi apenas coincidência.

sábado, 23 de outubro de 2010

CAPÍTULO XVI

O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.
Clarice Lispector


Dario havia chegado um pouco mais cedo propositalmente. Estacionou o carro e foi conversar com o segurança do prédio para averiguar se estava tudo tranqüilo. Aliás, essa era a palavra que definia tudo o que ele não sentia desde que Serena havia voltado a sua rotina. Seus anos de trabalho lhe diziam que Ricardo não ia deixar essa história barata.
― Por aqui tudo tranqüilo, Dario.― respondeu o segurança, já acostumado com as visitas inesperadas do amigo de trabalho.
Quando se dirigia a entrada principal avistou Serena e, ao mesmo tempo, viu um homem estranho ao seu lado segurando seu braço.
― O que está havendo aqui?― perguntou, tentando parecer o mais profissional possível.
Dario percebeu que ele foi embora rápido demais quando o viu. Mas quando viu a expressão horrorizada em Serena, teve certeza de que esse homem traria problemas. O certo seria ir atrás dele, mas não podia deixar ela assim.
― O que houve, Serena? Você conhece esse homem?― perguntou, segurando suas mãos.
Mas parecia que ela não ouvia suas palavras. Seu olhar estava vazio e perdido.
― Serena!― chamou de novo, dando uma leve chocalhada em seus ombros.― Ele fez algo com você? Vou atrás dele...
Mas a última frase a trouxe para a realidade. Sua mente tinha voltado no passado, mas especificamente na noite em que a mãe morrera.
― Não! Ele é perigoso...― cortou a frase no meio quando percebeu o papel em suas mãos.
Dario também percebeu o papel e pegou da mão dela rápido. Ela podia ver as veias saltando do seu pescoço enquanto lia o que estava escrito, o que indicava que estava nervoso.
― O que foi, Dario?
― Vamos sair daqui para conversarmos. ― disse simplesmente, conduzindo-a pelo braço até seu carro.
Foram em silêncio até um restaurante. Tinha perdido o apetite totalmente, por isso pediu apenas um suco de laranja.
― Eu não conheço aquele homem, Dario... mas reconheci sua voz.― começou a dizer.
― De onde?
― Ele foi o homem que matou minha mãe... a voz que ouvi no último telefonema que ela me deu. Tenho certeza!
Silenciosamente, ele passou o papel para sua mão.
“Se tem amor a sua vida, mude de cidade novamente.”
― Se tem amor a sua vida... é ele Dario... foi o que eu ouvi ele dizendo a minha mãe... que ela não tinha amor a vida.
Surpreendentemente, estava se sentindo calma o suficiente para pensar com clareza. Podia perceber a perturbação de Dario e sabia que ele ia querer levá-la para algum outro esconderijo.
― Dario, não vou me esconder... não vê a oportunidade? Podemos pegar ele! Aposto que Ricardo está por trás disso também.
― Você não está me dizendo que vai ser uma espécie de isca?― perguntou, a voz um pouco elevada. ― Você acha que vou deixar você se arriscar novamente, Serena? Já não basta o estado de aflição que passo constantemente longe de você! Tenho até receio de não estar trabalhando direito...
― Você é um ótimo policial, Dario! Ninguém duvida disso! E não quero ser um peso para você. ― disse, em tom provocativo, para ver se ele ria. Mas ele levou a sério.
― Peso? ― perguntou incrédulo.
― Bem... antes de eu chegar aqui, você tinha sua vida, sua rotina. Sei que você se preocupa demais comigo e...
Mas ela foi interrompida pelo garçom. Aproveitou para trocar de assunto.
― Vamos esquecer isso por enquanto... tenho uma novidade para te contar! Queria que fosse a primeira pessoa a saber! Fui promovida... vou ser editora chefe!― exclamou alegre.
― Que notícia maravilhosa, Serena! Temos que comemorar... podemos jantar hoje.
― Vou ligar para a babá então.― Lucas agora ficava na creche.― Mas só vai ser oficial numa festa que o diretor resolveu dar. Não sei ainda quando vai ser...
― Dario, não vou me esconder novamente!― interrompeu o que dizia, percebendo que ele não prestava nenhuma atenção.
Mas ele não respondeu, apenas assentiu com a cabeça. Almoçaram em silêncio, mas com muitas palavras e pensamentos que não externaram. Serena sabia que ele andava estressado e preocupado demais e que a causa principal era ela mesmo. Desde que ela retomou sua vida normal, ambos tinham tido poucos momentos a sós.
― Desculpe, Serena... não queria te deixar triste hoje. Fiquei muito feliz mesmo com a notícia da sua promoção.― disse ele com voz um pouco triste, quando saiam do restaurante.― Vou te levar para jantar hoje
Ela preferiu não responder como queria. Ele realmente estava afetado e parecia triste.
― Promete?― perguntou com voz doce.
― O que você quer que eu prometa?― perguntou meio desconfiado.
― Que vamos jantar, ora!― respondeu dando um sorriso, enquanto o abraçava. Propositalmente deixou seus dedos brincarem com os botões de sua blusa. Sabia que ele evitava mais intimidade quando estava de serviço, mas não pôde evitar. ― Estou com saudades de você.
De repente, de forma um pouco abrupta, ele segurou seu braço e a guiou para a lateral do restaurante, que era um local mais reservado.
― Desculpe!― disse ela, achando que ele não tinha gostado da sua demonstração pública de carinho.― Eu sei que...
Mas ele interrompeu sua frase com um beijo apaixonado e arrebatador. Ela sentia sua urgência e nada mais importava. Colou seu corpo o máximo que pôde no dele e passou os braços ao redor de seu pescoço, intensificando o beijo. Sentiu a mão dele descendo por suas costas e passando sobre o tecido fino da sua saia. Sabia que estava totalmente entregue naquele momento.
― Pareço um adolescente perto de você, Serena. ― disse ele, ofegante.― Minha vontade é arrancar sua roupa e...
Foi interrompido pelo toque do radio em sua cintura.
“Dario!Precisamos de ajuda...”
Dando um suspiro resignado, Serena encostou o rosto em seu ombro para recuperar o fôlego.
― Vá trabalhar, Dario. Estão precisando de você na delegacia.
― Vou te deixar na redação antes. Sei que você não vai querer se esconder novamente, mas vou tomar algumas medidas para sua própria segurança. Tudo bem, Serena? E preciso que você me prometa tomar mais cuidado de agora em diante.
― Está bem, Dario. Vou ter cuidado. E Lucas?
― Ele ficará bem. Vou reforçar a segurança dele.
― Dario... você não me prometeu ainda... vamos jantar mesmo hoje?
― Eu prometo tudo o que você quiser. Vou estar livre hoje a noite, não importa o que aconteça... até porque precisamos terminar o que começamos agora...― disse ele com um sorriso maroto.

Já estava no fim do expediente e Serena começava a arrumar suas coisas. O escritório ainda estava movimentado, mas algumas pessoas já se preparavam para sair. Em cima de sua mesa, havia um papel com algumas anotações que fizera num esforço enorme para se distrair. Mas sua mente estava dividida em duas coisas: o homem que encontrara mais cedo e em Dario. Queria muito ter uma amiga para conversar e tirar dúvidas envolvendo relacionamento. Sentia muita falta de sua mãe nessas horas.
Dando um suspiro resignado, pegou sua bolsa e dirigiu-se ao estacionamento. Enquanto procurava as chaves dentro da bolsa, escutou passos de alguém atrás dela. Tentando ficar calma, procurou seu spray de pimenta que Dario insistira muito para carregar. Quando achou, virou o corpo, pronta para atacar se necessário. Mas se surpreendeu quando viu a figura de uma mulher loira e alta sorrindo para ela.
― Mariana!― exclamou aliviada.
― Olá, Serena. Passei para ver como você estava.
― Assim, do nada?― perguntou, sorrindo de volta.
Ela não estava uniformizada. Sabia que tinha dedo de Dario no meio dessa história.
― Bem... na verdade, é isso mesmo que você está pensando. Dario me pediu que te levasse em casa. Mas antes que você fique zangada, pense que ele está nervoso com o tal homem. Até identificarmos quem ele é, melhor nos prevenirmos.
― Não vou ficar zangada. Bom, tenho um tempo ainda antes de buscar Lucas na escola. Podemos tomar um café, o que você acha?
As duas passaram no shopping e tomaram um café juntas. Conversaram bastante e Serena deixou de ter ciúme daquela mulher linda e provocativa que imaginara.
― Quando te conheci naquela situação dramática, eu só pensava em como você era bonita e como Dario apreciava sua presença... ― revelou Serena, em determinado momento.
― Nunca pensei em Dario como namorado ou amante. Ele sempre foi muito protetor e responsável. Na verdade... até te conhecer, nunca o vi assim.
― Assim como?― perguntou, antes que pudesse se conter.
― Tão preocupado com alguém, eu acho...― respondeu, meio pensativa.
Não era o que esperava ouvir e aquelas palavras aumentaram ainda mais os seus receios.
― Mariana, posso te perguntar algo? Mas gostaria de ter uma resposta sincera.
― Vou fazer o possível.
― Você acha que estou sendo um... problema para ele? Digo, estou atrapalhando o trabalho dele?
Mas antes que Mariana pudesse abrir a boca para responder, Mônica apareceu na frente das duas.
― Serena! Nossa, que bom te encontrar aqui, minha filha. Quero que vá jantar lá em casa hoje. Dario já me contou a novidade e disse que te chamou para jantar... então eu sugeri que fosse lá em casa. O que você acha? Não precisa chamar a babá não, deixa que eu tomo conta de Lucas para vocês.
Enquanto Serena aceitava a proposta de Mônica, sua mente pensava em outro problema. Mais propriamente na resposta que viu refletida nos olhos de Mariana.

Serena estava na cozinha de Mônica cortando algumas batatas, enquanto Mônica brincava com Lucas no quintal. Só faltava terminar a salada de batatas e quis ajudar de alguma forma. Colocou as fatias na panela para cozinhar e se sentou numa cadeira do quintal, observado Lucas rindo atrás de uma lagartixa.
― Você está muito pensativa, minha filha. Algum problema?― perguntou Mônica, parecendo preocupada.
Serena sabia que podia confiar nela, mas não quis preocupá-la.
― Não é nada, Mônica. Só estou cansada mesmo.
― Ainda não tivemos oportunidade de conversar depois de tudo o que ocorreu, mas estou sempre por aqui. Espero que não tenha ficado chateada por ter sugerido o jantar aqui em casa.
― Não. Por que eu ficaria?
― Bom... achei que fosse mais seguro. Dario anda tão preocupado com você e eu gosto de cuidar do Lucas.
Ao ouvir essas palavras, Serena engoliu a vontade de chorar e pediu licença para ver a panela na cozinha. Para se distrair, tirou a panela do fogo e, ao escorrer a água na pia, um pouco da água quente caiu em sua mão.
Sentindo a ardência da mão, não reprimiu as lágrimas dessa vez. Colocou a mão debaixo da água fria, mas o que mais doía era a sensação de impotência.
“Se ao menos tivesse algum jeito de eu pegar Ricardo...” pensou desesperadamente.
― Oi amor, desculpe a demora... ― começou Dario, entrando na cozinha, mas interrompeu o que dizia ao ver seu rosto molhado de lágrimas― O que houve?
Num instante ele estava ao seu lado, abraçando-a terno.
― Não foi nada...― disse numa voz hesitante. Tentou passar a outra mão no rosto para limpar as lágrimas, mas ele foi mais rápido e secou com a própria mão. Diante do gesto tão gentil dele, ela sentiu que os olhos ficavam novamente inundados.
― Eu queimei a mão na água... desculpa!― disse, lutando para não chorar mais.
Sem dizer nada, ele a levou ao banheiro para cuidar da mão.
― Você ficou chateada por não sairmos hoje? Minha mãe quis fazer o jantar e...
― Não, Dario. Estou feliz por estarmos aqui.― disse, interrompendo-o.
Mas ele a olhava desconfiado. Dario sabia que havia algo a mais por detrás das suas lágrimas. Ele conseguia ler nos seus olhos uma dúvida que ele não entendia qual era.
― Vou deixar você trocar de roupa para jantarmos. Vou ajudar sua mãe com Lucas.― disse e saiu de perto dele, antes que fizesse mais alguma pergunta.

― Serena, estou com sono...― disse o menino em voz sonolenta, no colo da irmã, depois do jantar.
Ela ficou em dúvida no que responder por que não sabia se iria dormir ali ou não.
― Mamãe, ele pode dormir com você hoje?― adiantou-se Dario.
Serena sentiu que ficava vermelha, mas procurou disfarçar. Então, Mônica subiu com ele enquanto eles arrumavam a cozinha.
― Dario, o que sua mãe deve estar pensando? ― perguntou ela, terminando de lavar o último prato.
― O que ela deveria estar pensando?― ele estava guardando os talheres distraído, mas tinha um sorrido nos lábios.
Ela ia brigar com ele, mas o sorriso dele a desarmava sempre. Pegou uma toalha de prato e jogou nele, fingindo-se de brava.
― É mesmo... ela não vai pensar nada, já que vou dormir no quarto de hóspedes não é mesmo?― perguntou, disfarçando um sorriso e seguiu em direção as escadas.
Mas antes mesmo que conseguisse chegar as escadas, sentiu a mão quente dele em sua cintura.
― Você não está falando sério, está?― perguntou, meio em dúvida.
Ela ainda ia brincar com ele mais um pouco, mas foi impossível desviar os olhos dos dele.
Ao invés de responder, ela colou o corpo no dele e o beijou rapidamente.
― Não. Também quero terminar o que começamos mais cedo. ― disse em voz baixa.
Ele a pegou no colo e ela segurou uma risada, com medo de Mônica escutar.
―Você é louco! Sua mãe está aqui com Lucas!
― Já sou bem grandinho, Serena.
― Eu sei...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CAPÍTULO XV (FINAL)

Os três tomaram café-da-manhã juntos, parecendo uma família. Lucas gostava muito de Dario, o que completava a felicidade de Serena.
― Você vai precisar voltar para a delegacia, Dario? ― perguntou, após o café num tom meio triste.
― Não... preciso de um...hã... descanso.― respondeu com voz marota. ― Hoje vou deixar meus problemas de lado.
Ela lhe deu um sorriso lindo e feliz.
― Minha mãe vai tomar conta de Lucas, Serena. Pensei que a gente pudesse jantar juntos hoje. O que você acha? Quero conversar com você a sós. ― foi o que ele disse, após o café da manhã.
Dimitri, que já havia acordado e tomado o café, entrou na cozinha neste momento, interrompendo a conversa dos dois.
― Que bom que ainda está aqui, Dario. Preciso te mostrar uns papéis. Prometo não tomar muito o seu tempo.
Percebendo seu olhar indeciso, Serena disse para ele ir, enquanto ela cuidava de Lucas e das malas.
Uma hora depois, a pedido de Dario, Mônica chegou e ficou com Lucas. Serena já havia deixado tudo arrumado para a volta ao lar e resolveu tomar um banho. Só então percebeu que havia algumas manchas nas suas coxas e no lençol. Sentindo seu rosto ficar rubro, mesmo estando sozinha no quarto, tirou o lençol, dobrou e guardou numa bolsa. Sentiu-se uma idiota por não ter lembrado isso antes. Estava abrindo a mala para pegar uma muda de roupa limpa quando Dario entrou no quarto, sem fazer barulho.
― Já tomou seu banho, Serena?― perguntou ele, ao seu lado, assustando-a como sempre.
― Dario! Você precisa parar com essa mania de chegar sem fazer barulho.
Ele deu uma risada e a abraçou.
― Por que? Adoro seu rosto assustado... então, já tomou seu banho?
― Bem... não...
― Que bom...
Percebendo suas intenções, Serena disse rapidamente, um pouco nervosa:
― Dimitri não precisa mais de você?
― Não.
― Tem certeza?
Dario percebeu algo de estranho no tom de voz dela e, levantando seu queixo com a mão, perguntou o que havia de errado.
― Nada, Dario. Só não quero atrapalhar seu trabalho. ― responder rápido e afastando-se.
― O que foi, Serena? Acho que você não precisa mais ser tão reservada assim comigo!
Ela suspirou e sentiu-se mais ridícula ainda.
― Dario, você vai me achar muito boba...
― Nunca! Amo você demais, Serena. Depois de tudo o que vivemos ontem, nunca mais poderia achá-la boba.
― Mesmo depois de todas as outras mulheres experientes...
Ele pôs um dedo em sua boca, silenciando-a.
― Que mulheres? Só você importa para mim...
Dario, então, a trouxe para junto do seu corpo e a beijou apaixonadamente. Sua mão já desatava o nó do robe, quando sentiu a mão trêmula dela na sua.
― O que há, Serena? ― perguntou com a voz rouca.
― Posso entrar no banheiro... antes?
― Eu pensei em entrar com você... você não quer? Eu te machuquei, Serena? Diga-me a verdade!
― Não! Claro que não... é que só agora percebi... que estou um pouco... eu tinha esquecido disso. Sou muito boba!
Só levou uns poucos segundos para ele conseguir entender o que a afligia.
Sem dizer mais nada, a pegou no colo e a levou ao banheiro.
― Vamos tomar banho juntos... eu vou te limpar. Não quero mais que você tenha vergonha comigo.
E assim, entraram no banheiro juntos. Dario foi muito cuidadoso e carinhoso com ela. Sabia que precisava ter paciência com ela. Depois do banho, ambos se entregaram a uma longa tarde de amor.


Serena tamborilava os dedos ansiosamente na sua mesa. Estava nervosa e não conseguia esconder. Na tentativa de se acalmar, olhou a sua volta e percebeu que estavam todos trabalhando normalmente no escritório. Era o seu primeiro dia de trabalho após o tempo que ficara escondida. Sua matéria tinha saído como notícia de primeira folha três dias antes e muitos funcionários se perguntavam como isso podia ter acontecido dentro do próprio jornal. Na opinião de Serena, foi uma virada de jogo estratégica a publicação da matéria denunciando todo o esquema do tráfico. Mas não era isso que preocupava Serena.
Ricardo Gray ainda estava desaparecido e faltavam algumas peças do quebra cabeça. Ela já tinha retomado sua vida normal há alguns dias, mas o fantasma desse homem ainda a perseguia. Quando estava escondida, tudo o que mais queria era voltar a sua vida normal, mas tinha que reconhecer que se sentia mais protegida na casa de Dimitri. Nesse dia, especificamente, estava sentindo uma sensação diferente, como se algo fosse acontecer. Claro que nunca ia dizer isso para Dario, pois ele já andava preocupado demais. Pensar em Dario sempre a fazia relaxar, então voltou sua atenção novamente para a tela do computador.
― Serena Hill!― alguém chamou seu nome.
Quando levantou o rosto em direção a voz, viu a secretária do diretor geral ao seu lado. Era uma mulher já idosa e, apesar do tamanho miúdo, muito decidida.
― Sim?
― O sr. Silva quer falar com você. Está ocupada?― perguntou levantando a sobrancelha.
― Não, claro que não.
― Então me acompanhe, por favor.
As duas caminharam silenciosamente pelo corredor até o elevador.
― Bela matéria, Hill. Como se sente com o sucesso?
― Bem... eu tinha motivos pessoais envolvidos. Mas não posso dizer que estou satisfeita ainda.
― Entendo. Mas logo vão prender Ricardo Gray. Ele enganou a todos. O Sr.Silva não gostou nem um pouco de ter um funcionário desse porte envolvido nessa história toda, mas você soube virar o jogo. Acho que terá uma boa recompensa. Bom, chegamos... pode entrar, Serena. Ele te espera.
Serena passou a mão no cabelo, tentando arrumar da melhor forma possível, e entrou na ampla sala iluminada do diretor. Caminhou até a mesa central, onde havia um homem calvo sentado falando no telefone. Quando chegou perto, o homem fez um gesto para ela se sentar.
― Eu estava querendo muito te conhecer, Serena. ― disse ele, assim que desligou o telefone― Desde que sua matéria foi publicada, meu telefone não pára de tocar. Confesso que ficamos chocados com tudo o que aconteceu, mas foi uma vitória nosso próprio jornal denunciar isso tudo. Sei que você começou a trabalhar aqui tem pouco tempo, certo?
― Sim.
― Não disponho de muito tempo, mas gostaria de ouvir um pouco da sua história. O que a levou a investigar essa história?
Serena olhou para o diretor a sua frente e pensou no que dizer. Nada mais a impedia de falar a verdade, então narrou rapidamente os acontecimentos envolvendo a morte de sua mãe. Como sempre acontecia, emocionava-se quando falava da mãe. Era uma mistura de emoções que não conseguia distinguir.
― Serena, então tudo foi muito pessoal para você. Foi muita sorte você ter vindo parar aqui então, no meu jornal. Por isso, sem mais delongas, tenho uma proposta para você. Com a saída de Ricardo Gray, estou precisando de um novo editor-chefe na redação. Sei que você não está aqui há tanto tempo quanto alguns funcionários, mas você fez por merecer... então, quer ser a nova editora?
Serena ficou visivelmente surpresa.
― Nossa... claro que quero. Será um novo desafio para mim. Nem sei como agradecer.
― Você fez por merecer, Serena. Não estou fazendo nenhum favor. Estou organizando uma festa de comemoração pelo sucesso do jornal... até para abafar também comentários negativos... provavelmente será nessa semana ainda. Minha secretária está terminando os preparativos e deve mandar um email para todos os funcionários ainda hoje. Peço que espere até a cerimônia para eu anuncie essa decisão.
― Tudo bem, Sr. Silva.
― Só te peço uma coisa, Serena. Não se acomode como o fez Ricardo. Não perca esse seu espírito investigativo.

Já era perto do horário do almoço quando Serena recebeu uma mensagem no seu celular.
“Vamos almoçar juntos? Te pego aí as 13hrs!”
Sempre que Dario conseguia uma folga na delegacia, passava no escritório para vê-la. Perto das 13 horas, ela foi ao banheiro para lavar o rosto e retocar a maquiagem. Sentia necessidade de ficar bonita para ele. Quando foi em direção a porta da entrada do prédio, passou pela sala que era do Ricardo e sentiu um calafrio. Novamente uma sensação ruim se apoderou dela.
Apressou o passo e afastou os pensamentos ruins. Quando passou pela porta giratória, avistou a viatura de Dario parada na rua mas estava vazia. Abriu sua bolsa para procurar seu celular e não percebeu a presença de uma figura masculina parada a alguns metros de distância. Mas sentiu a presença deste quando se moveu e ficou a poucos centímetros de distância. Achando que era Dario, Serena virou o corpo rápido e acabou trombando neste homem, que para evitar que ela caísse no chão, segurou seu braço.
― Perdão, senhorita... ― disse o homem, em voz baixa.
Serena olhou para o homem com horror. Essa voz ela reconheceria em qualquer lugar. Essa voz estava marcada na alma dela.
― Solte-me!― disse em voz baixa para ele, não conseguindo forças para gritar, mas sentindo repulsa do toque daquele homem.
O homem a olhou com certa surpresa, mas deu uma leve risada.
― Tem certeza?― perguntou, apertando os dedos no seu braço.
Como resposta, ela tentou soltar o braço sem sucesso.
― O que está havendo aqui?
Para alívio de Serena, Dario estava parado a seu lado e olhava fixamente para o homem que ainda segurava o seu braço.
― Só estava ajudando a moça aqui...― disse o homem soltando o seu braço, mas colocou algo em sua mão antes de ir, num movimento rápido e discreto.