domingo, 12 de abril de 2009

CAPÍTULO XII (FIM)

─ Dario, sei que você está zangado com o que fiz, mas... você me tratou de modo tão... tão... frio.
─ Serena, eu estava zangado... sei que isso não é desculpa... mas...
Antes que ele pudesse concluir a frase, a porta do quarto abriu e Mariana entrou segurando o telefone.
─ Que bom que está acordada, Serena! Vocês precisam ir de encontro a Dimitri logo.
─ Serena você vai precisar ir disfarçada. ─ continuou, abrindo o armário apressada.
─ Essa conversa ainda não terminou. ─ disse Dario, segurando seu queixo. Resistindo a vontade de beijá-la, ele saiu do quarto para se vestir.
─ Você o ama, não é? ─ perguntou Mariana de repente.
Serena a olhou desconfiada por alguns instantes. Achou que a pergunta fosse por alguma segunda intenção e que ela gostasse de Dario. Mas percebeu que a pergunta fora feita sem nenhuma emoção pessoal.
─ Sim. ─ respondeu simplesmente.
Mariana deu um sorrisinho simpático e achou o que procurava no armário.
─ Espero que tudo dê certo entre vocês. Dario é um homem especial. E ele está super apaixonado também por você, Serena.
─ Vocês... tiveram algo... mais íntimo no passado?
─ Não. Ele sempre me viu como amiga só. Não precisa ter ciúmes. ─ respondeu enquanto tirava o embrulho do armário. ─ Serena, aqui tem uma peruca e uma roupa para você usar. Garanto que ninguém a reconhecerá.
─ Preciso dos meus óculos... cadê minha bolsa? ─ perguntou, com tom nervoso, enquanto procurava pelo quarto.
─ Fique calma. Nós já achamos o relatório e vou cuidar disso para vocês. Não é seguro vocês ficarem andando com algo tão importante. Dimitri irá ajudar vocês no resto.
─ Quem é Dimitri?
─ É um amigo nosso muito confiável e ligado a mais alta autoridade da polícia civil. Ele já está com as provas que vocês conseguiram antes e está cuidando dos mandatos. É só uma questão de tempo agora. Mas até lá você precisa estar em segurança, entende?
Serena assentiu com a cabeça e começou a vestir o disfarce. Quando terminou, achou que estava mesmo irreconhecível. Olhando no espelho do banheiro, se sentiu a mais feia das criaturas. A peruca era tinha um tom loiro acinzentado e era cacheada. Não combinava em nada com ela. A roupa que Mariana arranjou era um vestido quadriculado muito largo e que ia até seu joelho. Chegava a ser cômica. Colocando os óculos, saiu do quarto.
─ Sabia que esse disfarce era bom! ─ exclamou Mariana empolgada.
Dario também a estava olhando com espanto e, ao mesmo tempo, curiosidade. Ela estava irreconhecível, mas apesar disso, continuava a menina por quem se apaixonou.
─ Bom, vamos? ─ continuou Mariana. ─ Vou levar você de carro até a avenida principal e dali vocês pegam um taxi. Eu vou cuidar desses documentos.
Serena tinha mil perguntas a fazer, mas ainda não era o tempo certo. A principal delas era a respeito de Lisa.
Como se tivesse lido seus pensamentos, Dario se aproximou e segurou sua mão, enquanto saiam do apartamento.
─ Vamos ter tempo de conversar logo.


Lisa andava de um lado para o outro do apartamento inquieta. Muitas coisas haviam acontecido nesses últimos dois dias.
Fora surpreendida com uma ligação de Ricardo no meio da noite. Estava claramente com voz bêbada. Dizia que precisava conversar com ela, pois estava se sentindo solitário. Lisa se sentiu muito envaidecida e pensou logo na sua tão sonhada promoção. Meia hora após a ligação, Ricardo bateu em sua porta e disse que desejava Lisa há tempos. Ela acabou se deixando envolver e dormiram juntos. Na manhã seguinte, surpreendeu ele no telefone falando de Serena. Claro que ele nem imaginava que ela tivesse ouvido sua conversa.
O primeiro impulso de Lisa fora de gritar de revolta. Ele a procurara porque não havia conseguido nada com Serena. Justamente Serena! Mas o resto da conversa a deixara intrigada. Ricardo parecia estar muito irritado por ter descoberto algo a respeito de Serena. Escutou claramente quando mandou a pessoa da outra linha achar imediatamente ela e trazer para ele, com vida. Não precisava ser adivinho para saber que ele queria terminar o que começara na noite anterior.
Lisa fingiu não ter escutado nada. Num primeiro momento, deixou as coisas como estavam. Não queria admitir, mas sentia muita inveja de Serena. Ela era linda e talentosa. E o principal era que tinha conquistado o coração do único homem que realmente queria. Era apaixonada por Dario desde o primeiro momento que o vira. Mas ele nunca sequer a olhara com segunda intenção. Quando percebeu que algo estava acontecendo entre Serena e Dario, foi demais para Lisa. Nunca havia sentido um ciúme tão forte.
Talvez tenha sido por isso que aceitou quando Ricardo pediu que a ajudasse depois. Ele devia ter percebido na redação a animosidade entre as duas. Ela tinha prometido ajudar a achar Serena, mas escondeu o envolvimento de Dario nessa história.
Tinha ligado para Dario na noite anterior, alegando já saber da história e que sabia como ajudar Serena. Para conquistar a confiança dele, disse que tinha informações sobre uma suposta nova vítima. Agora esperava o telefonema de Dario. Era para ele ter trazido Serena há tempos. Algo devia ter acontecido. Resolveu esperar mais algum tempo antes de tentar ligar de novo.

sábado, 11 de abril de 2009

CAPÍTULO XII (CONTINUAÇÃO)

─ Está bem, Mariana. Melhor nos sentarmos.

Serena abriu os olhos e se viu envolta por uma penumbra. Seu primeiro impulso foi de fechá-los novamente e dormir, mas conseguiu resistir. Erguendo o corpo suavemente, percebeu que estava num quarto feminino. Um relógio na mesinha a sua frente marcava cinco e meia da manhã. Aos poucos, sua mente foi clareando e todos os acontecimentos da noite anterior vieram a sua mente. Foi quando sentiu uma tristeza enorme no peito.
Não suportando mais, afastou os lençóis e saiu da cama. Percebeu que estava vestindo apenas uma camisa longa e seu pé fora enfaixado. Pisando com cuidado no chão porque o pé ainda doía, Serena se dirigiu a janela. O céu já estava clareando, mas continuava nublado e isso de algum modo os unia.
“Mamãe, sei que você me ouve. Por que me abandonou? Por que me deixou envolver nisso? Estou com tanto medo... estou me sentindo tão sozinha, mamãe!”Sem perceber, ela murmurou essas palavras em voz alta. Ela segurava o batente da janela fortemente e as lágrimas corriam livremente.
“Tão sozinha...”
De repente, Serena sentiu a mão quente de alguém em seu ombro, forçando-a a virar para frente.
─ Você não está sozinha, meu amor! ─ Dario estava ali a sua frente, como que se tivesse se materializado.
Ela se afastou alguns passos. Não conseguia pensar com ele a tocando.
─ O que está fazendo aqui?
─ Eu estava sentado na poltrona ali. ─ disse apontando para um canto do quarto.
─ Eu não havia te visto... ─ ela tentou se afastar mais, mas esbarrou na cama.
─ Desculpe, Serena.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

CAPÍTULO XII (CONTINUAÇÃO)

A essa altura, ambos já estavam encharcados. Mesmo descalça Serena caminhou da forma mais natural que consegui até a estrada. O carro da tal amiga dele estava parado no acostamento. Dario abriu a porta traseira para ela, mas sentou no banco ao lado da amiga.
Serena ficou magoada com a atitude dele. Sentia um nó na garganta e sabia que estava prestes a chorar.
─ Mariana, essa é Serena. A amiga sobre quem lhe falei.
─ Tudo bem, Serena? Que infortúnio hein? ─ cumprimentou Mariana, enquanto ligava o carro.
“Amiga?”
─ Que sorte eu passar aqui justamente hoje! ─ continuou ela.
─ Que sorte mesmo... ─ respondeu com voz baixa.
Os dois conversaram durante todo o caminho e Serena permanecia em silêncio. Aproveitou para observar melhor a tal Mariana. Era uma mulher loira, com pele bem clara e devia ser alta. Era muito bonita. Bonita demais até.
Chegaram ao destino em menos de uma hora. Mariana estacionou o carro na garagem de um prédio alto no centro da cidade e todos desceram do carro.
─ Nem sei como te agradecer, Mariana.
─ Vocês dois estão muito molhados. Faço questão que subam e troquem de roupa.
─ Não sei se é seguro.
Serena acompanhava a conversa como se não estivesse ali.
─ Dario, já estou acostumada a isso, esqueceu. Somos colegas, lembra?─ disse ela, rindo e dando uma cutucada com o braço nele. Vamos, Serena?
Os dois seguiram em frente e Serena ficou parada por alguns minutos. Tinha vontade de sumir dali. Mas seus pés não a obedeciam. Como um boneca de pano, seguiu os dois pelo corredor. Seu pé doía cada vez mais e estava se sentindo muito fraca. Em determinado momento, os dois viraram para a direita e ela não conseguiu mais seguir em frente. Sentiu que a visão estava falhando.
─ Serena? ─ escutou uma voz masculina, mas parecia vir de longe.
─ Estou... bem...
Ainda conseguiu escutar a voz de Mariana dizer algo sobre o estado de seu pé. Depois disso, a escuridão a envolveu.

─ Dario, como você não percebeu que essa meninas torceu o pé desse jeito? Você sempre foi muito observador. ─ perguntou Mariana, com tom de recriminação na voz.
Quando Serena desmaiou e viu que o pé dela estava bastante inchado e vermelho, Dario se sentiu o pior dos homens. Estavam numa situação de extremo perigo e agiu profissionalmente, apesar de também querer dar uma pequena lição para ela. Mas agora estava muito arrependido.
Ele a pegou nos braços e entraram no apartamento. Mariana cuidou de Serena, deixando Dario do lado de fora do quarto. Ele estava muito nervoso e com uma enorme sensação de culpa.
─ Não sei, Mariana. Foi tudo tão repentino.
─ Qual a sua ligação com essa menina? ─ perguntou, mas nem precisou esperar pela resposta. ─ Nem precisa me responder, dá para ver nos seus olhos. Ela estava segurando a bolsa com muita força. Deve ter algo aqui de importante.
Dario pegou a bolsa e achou o relatório. Tinham as provas necessárias para acabar com tudo já.
─ Acho melhor você me contar tudo desde o princípio, Dario. Sabe que posso ajudar vocês.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

CAÍTULO XII

"Os obstáculos não podem te deter. Os problemas não podem te deter. Mais que tudo, outras pessoas não podem te deter. Somente você pode deter a si mesmo."
(Desconhecido)


Eles andaram por cerca de meia hora em silêncio. Dario estava concentrado pensando no que fariam a seguir e Serena, em pânico. Eles já estavam bem afastados do motel e da estrada, porém só o que viam era a escuridão da mata. As árvores pareciam assustadoras e havia muita pedra no caminho. Devido ao salto, Serena tropeçava o tempo todo, mas Dario não percebia seu desconforto e continuava andando. Em determinado momento, o salto do pé direito acabou quebrando fazendo seu pé virar bruscamente. Mesmo sentindo bastante dor no pé, não ousou emitir nenhum som ou reclamar. Tirou os sapatos e os deixou para trás.
Após alguns minutos, Dario se virou e pediu que ela esperasse um pouco.
─ Serena, vou até a beira da estrada ver se tem alguém nos seguindo. Espere aqui um pouco e, por favor, não saia daqui.
Ela fez que sim com a cabeça. Estava sentindo fome e pé latejava muito.
Sentou sobre uma pedra maior e tentou ver o estado do pé, mas estava muito escuro até para isso. Olhando ao redor, sentiu um medo terrível. Não conseguia distinguir nada a sua frente. O céu estava nublado e as primeiras gotas da chuva começaram a cair. Começou a sentir frio e, juntando o medo e a dor, achou que fosse surtar. Fechando os olhos, começou a rezar baixinho.
“Por favor, mamãe, nos ajude. Não vou agüentar se algo acontecer a Dario e Lucas por minha causa. Prefiro morrer! Você estava errada... agora percebo isso. Eles são minha família agora.”
Não se deu conta do tempo que tinha ficado sozinha ali. Estava sentindo o corpo tremer, mas a sensação de frio não a incomodava mais. Só voltou a abrir os olhos, quando sentiu que alguém a sacudia.
─ Serena, você está bem? ─ perguntou Dario, preocupado ─ Você está tremendo.
─ Estou bem, Dario. Conseguiu algo?
─ Sim. Uma amiga minha estava passando e me viu. Vamos pegar carona com ela para voltar.─ disse e foram para a estrada.
A essa altura, ambos já estavam encharcados.

CAPÍTULO XI (CONTUNUAÇÃO)

Ela abriu os olhos devagar, como se ainda estivesse sonhando. Mas quando viu Dario em pessoa ali parado, deu um pulo e o abraçou. Só ao lado dele se sentia em segurança.
─ Dario... dormi sem querer.
─ Você está cansada, Serena. Nada mais natural.
Rapidamente, narrou os acontecimentos que se sucederam. Imaginou que ele fosse ficar realmente zangado, mas chegou a estremecer de apreensão ao ver seu semblante ao final da narrativa.
Conforme ela ia contando o que tinha feito, Dario sentia o sangue ferver nas veias. Tentou não transparecer seus sentimentos, mas lhe foi impossível. Aquela menina não tinha a mínima noção de perigo.
─ Serena, você tem idéia do que podia ter acontecido? ─ foi só o que conseguiu perguntar, com voz controlada.
─ Eu precisava ter certeza...
─ Certeza de que, Serena? Enlouqueceu? O que vai ser de seu irmão se algo acontecer a você? Quer ser tão irresponsável quanto sua mãe foi? ─ Dario já estava praticamente gritando a essa altura. Tinha vontade de sacudir aquela menina para ver se colocava juízo na cabeça dura.
Mas sabia que tinha passado dos limites. O fato da mãe dela ter se envolvido nessa história e não ter calculado as conseqüências do seu ato envolviam muitas outras coisas complicadas.
Serena tinha os olhos marejados e assustados. O seu primeiro impulso foi de dizer que ele não tinha direito de acusar a sua mãe assim. Muito menos julgar as próprias atitudes. Mas, pela primeira vez, sentiu-se culpada. Seu irmão era praticamente um bebê ainda. Pensara no futuro dele algum momento?
Mas quando ia abrir a boca para dizer algo, o celular de Dario tocou. Percebeu que ele franziu a testa quando viu o visor, mas atendeu a ligação.
─ O que você quer, Lisa?
Ao escutar o nome da pessoa, Serena gelou. Era só o que faltava mesmo. Impaciente, levantou da cama e foi até a janela. Dario ficou apenas alguns poucos minutos no celular, mas pareceu uma eternidade.
─ Serena, temos que sair daqui. Lisa vai nos encontrar... ─ disse ele, quando finalizou a ligação.
─ Vamos encontrar com a Lisa? ─ perguntou, incrédula.
─ Sim. Ela vai nos ajudar. Explico tudo no caminho. Não podemos mais perder tempo. Vá se arrumar.
Mesmo odiando ver o nome de Lisa envolvido nessa história, ela se resignou e foi ao banheiro, sem abrir mais a boca. Sabia que era melhor ficar calada naquele momento e obedecer às ordens dele. Pelo seu tom de voz, percebeu a seriedade da situação.
Ela se trocou rapidamente e saíram em silêncio do quarto. Dario a guiou pelo mesmo caminho que fizera e a escuridão da noite ajudou a manter ambos escondidos. Porém, assim que chegaram perto da estrada, ele parou abruptamente e fez Serena ficar escondida. Dois carros escuros estavam parados na entrada do motel e os motoristas conversavam, gesticulando muito. Um dos carros entrou e o outro ficou parado, mas o motorista e mais um passageiro saíram e ficaram de vigília.
─ Serena, não podemos sair daqui de carro sem sermos vistos. ─ disse em voz baixa ─ Eles logo vão começar a procurar pela região quando não a acharem no quarto. Vamos beirando a estrada, pelo mato mesmo.
Ela apenas assentiu e, apertando a bolsa contra o corpo, sentiu um frio na espinha. O cerco estava se fechando e sabia que era a principal culpada. Mesmo sentindo um medo avassalador, seguiu em frente. Mas não sabia até quando agüentaria.