quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

CAPÍTULO VII (CONTINUAÇÃO)

(...)
─ E hoje, por acaso, escutei uma conversa telefônica muito suspeita do meu editor chefe. Pode ter sido coincidência, mas ele falava sobre transplante de rim e mencionou o tipo sangüíneo da pessoa que precisava. Ele marcou uma reunião com a tal pessoa com quem ele conversava no galpão abandonado às 23 horas. Você sabe onde fica?
Dário franziu o cenho e ficou um instante pensativo.
─ Serena, eu venho acompanhando alguns encontros nesse galpão. Qual o nome do seu chefe?
─ Ricardo Fray.
─ Não acredito! Serena, você não pode continuar trabalhando diretamente para ele. Pelo que sei, ele é uma pessoa central dessa organização. ─ disse preocupado.
─ Mas eu posso tirar proveito disso, Dário...
─ Como, Serena? ─ perguntou ele, desconfiado.
─ Bem... ─ começou, mas ficou envergonhada ─ É que uma colega de trabalho acha que o sr. Fray anda me cantando... eu, pessoalmente, nunca notei nada de mais.
─ E você acha que eu vou permitir que você dê corda para esse homem, Serena? ─ perguntou em tom elevado e bastante irritado.
Ela ficou assustada com a reação dele, mas logo entendeu. Ficou tão contente por descobrir que ele estava com ciúmes que até sorriu sem querer.
─ Posso saber o motivo do seu divertimento? ─ perguntou ainda mais irritado.
─ É que você está irritado.
─ E isso a faz feliz? Posso saber o por quê?
─ Você está com ciúme de mim...
Dário não resistiu ao tom meigo dela e acabou rindo também.

domingo, 2 de dezembro de 2007

CAPÍTULO VII (CONTINUAÇÃO)

Como se o mundo tivesse parado e só os dois estivessem vivos, os lábios duros de Dário encontraram os trêmulos e macios dela. Dessa vez não foi um beijo tranqüilo e, sim, uma explosão de sentimentos. Serena entreabriu um pouco a boca, como se buscasse ar, e sentiu que a língua quente dele invadia todo o seu interior aveludado, querendo conhecer todos os recantos escondidos.
Ficaram perdidos nesse encantamento quando Serena sentiu que as mãos dele percorriam a parte mais externa de sua perna e entraram na sua saia. Como se um alarme disparasse no fundo de sua mente, ela começou a ficar apreensiva.
─ Dário, por favor... não... ─ suplicou, mas sem forças.
─ Desculpe, querida, não quero assustá-la. Mas você me deixa louco assim. ─ respondeu se afastando dela e com um sorriso nervoso.
─ Você fica muito mais lindo... quando sorri... estava tão sério antes!
─ Vou me lembrar disso... vou tentar sorrir para te deixar feliz, Serena. Mas quando soube a verdade toda, fiquei com muito medo por você. Por mais que eu já soubesse que você me escondia algo, não imaginava que era isso. Acho que não adianta eu te pedir para se esconder, né?
─ Desculpe, Dário. Peça qualquer coisa, menos isso.
─ Eu imaginei. Vamos nos sentar mais confortavelmente na sala e quero que você me conte tudo.
E assim, Serena explicou toda a história da investigação da mãe, inclusive, o fato dela só ter descoberto tudo após a sua morte e a conversa com Marcos Wong. Propositalmente não quis comentar nada sobre os motivos que levaram Marina a se embrenhar nessa história perigosa. Não conseguia mencionar as maldades de seu próprio pai.

sábado, 1 de dezembro de 2007

CAPÍTULO VII (CONTINUAÇÃO)

(...)
Ele a colocou sentada na mesa da cozinha e foi buscar o kit de primeiro socorros. Enquanto isso olhou para o joelho e viu que estava bem ralado, provavelmente por estar usando uma saia e não a calça comprida costumeira.
Dário voltou à cozinha com uma caixa de remédios e, com um pedaço de algodão, limpou o machucado. Mesmo doendo, Serena mordeu o lábio inferior e ficou quieta.
─ Obrigada, Dário. Mas não quero mais te incomodar. ─ disse ela, percebendo que o clima estava tenso. Dário estava muito estranho.
─ Precisamos conversar, Serena. E dessa vez quero a verdade!
Ela saltou da mesa e o encarou com um misto de medo e desafio.
─ Que verdade? Não sei do que está falando!
─ Tem certeza? Por que não me disse que você é filha de Marina Hill? Eu não havia ligado seu sobrenome ao dela. Mas agora, tudo me começa a se encaixar.
Serena ficou muda de espanto, pois não esperava essa descoberta.
─ Serena, por favor, preciso que você me conte a verdade. Eu posso ajudá-la, só você não percebe isso.
─ Como... você pode me ... ajudar? ─ perguntou confusa.
─ Sua mãe investigava algo perigoso e tenho a intuição de que você veio terminar o que ela começou.
─ Como você sabe disso, Dário?
─ Eu sou um policial, querida. Esqueceu?
Não, ela não esqueceu.
─ Não sei se posso confiar em você... pelas poucas informações que obtive, sei que há policiais envolvidos nessa história suja.
─ Também sei disso. Mas você precisa confiar em mim, Serena. Será que se olhar no fundo do seu coração, não há uma mínima parcela de confiança em mim? ─ perguntou, agora mais carinhoso.
Ela o olhou bem dentro dos olhos e suspirou. Sabia que estava perdida.
─ Dário, minha vida sempre foi muito complicada. Reconheço que tenho dificuldade em confiar nas pessoas, principalmente depois de ter perdido minha mãe. E por incrível que possa parecer, ela também não confiou em mim, pois não me contou nada do que estava acontecendo. Mas algo dentro de mim soube que eu podia confiar em você, desde a primeira vez em que te vi.
O final da frase não foi nada mais que um murmúrio e baixou os olhos, envergonhada. Por isso não viu o brilho que surgiu nos olhos daquele homem que a fascinava.
─ A minha vontade é te beijar, Serena. Mas não sei se devo...
─ E porque não me beija? ─ perguntou com uma coragem que não sabia que tinha.
Ele não precisou escutar mais nada e a abraçou pela cintura, trazendo seu corpo junto do dele. O calor do corpo dele a deixava sem ar e com formigamentos pelo corpo. Eram muitas sensações novas, mas que queria muito descobri-las.
─ Olhe para mim, querida! ─ perguntou em voz baixa, junto ao seu ouvido. ─ Não tenha medo.
─ Não tenho medo de você... ─ respondeu, levantando a vista e encontrando um par de olhos castanhos brilhantes.

CAPÍTULO VII (CONTINUAÇÃO)

(...)
Dário se preparava para sair da delegacia quando o telefone de sua mesa tocou. Já estava com uma das mãos na maçaneta da porta e pensou duas vezes antes de voltar para atender. Suas atividades profissionais e extra-profissionais estavam esgotando sua mente. Por fim, sua consciência falou mais alto e atendeu o telefone. A pessoa do outro lado da linha passou uma informação rápida, mas importante. Quem o conhecia, sabia pela expressão de seu rosto, que a notícia o havia perturbado. Ele desligou o telefone vagarosamente e, após pensar por alguns instantes, levantou rápido e saiu da delegacia.

Já era fim do expediente e a maioria dos funcionários já havia ido embora. Serena estava sentada em sua mesa e terminava de escrever uma matéria. Felizmente, Lisa a havia deixado em paz e não a procurara mais durante o resto do dia, embora pudesse sentir seu olhar o tempo todo. Sabia que estava ganhando uma inimiga.
Serena escrever a última frase e, após uma rápida revisão, mandou imprimir a matéria. Como a impressora do jornal ficava no final da sala, ela juntou suas coisas e desligou o computador. Pegou as folhas impressas e se dirigiu a sala do editor-chefe, Ricardo Fray. Queria deixar com ele a matéria para que ele aprovasse sua publicação no jornal do dia seguinte. Antes de bater na porta, percebeu que ele estava ao telefone, embora falasse bem baixo.
─ Quem está interessado? ─ perguntou Ricardo.
Serena pensou se tratar de uma conversar particular e não queria interromper. Já ia se afastando da porta quando ouviu mais uma parte da conversa e ficou estarrecida.
─ Mas é transplante de rim? Qual o tipo sangüíneo do interessado?
Serena ficou imediatamente em alerta e, olhando a sua volta e percebendo estar sozinha, se abaixou perto da porta para escutar melhor a conversa.
─ Esse sangue vai ser mais difícil... ─ continuava ele, em voz bem baixa.
─ ... Certo. Vamos nos encontrar hoje às onze horas no galpão abandonado... Até.
Percebendo que a conversa chegara ao fim e que Ricardo se levantou da cadeira, Serena saiu de seu esconderijo e correu ao longo do corredor. Chegou à portaria do prédio ofegante e assustada. A conversa fora um tanto suspeita e precisava confirmar sua desconfiança. Iria até esse galpão abandonado... mesmo não tendo idéia de onde era. Com esse pensamento, saiu correndo do prédio e, ao mesmo tempo, procurando seu celular na bolsa para avisar a Martha que chegaria tarde em casa. Mas foi uma péssima idéia. Na pressa, acabou tropeçando e caiu no chão e todo o conteúdo da bolsa se espalhou a sua volta.
─ Acho que meu destino é sempre te ajudar mesmo, Serena Hill. ─ disse Dário, chegando por trás e estendendo a mão para ajudá-la.
Serena suspirou aliviada ao vê-lo. Já estava acostumada com suas chegadas inesperadas. Quando levantou do chão e olhou para seu rosto, percebeu que ele estava mais sério do que nunca o havia visto.
─ Está machucada? ─ perguntou, sem mudar a expressão de seu rosto e juntando os objetos espalhados.
─ Não. Obrigada pela ajuda, Dário. Nem sei mais o que faço sem você... ─ perguntou, tentando faze-lo rir um pouco. Adorava seu sorriso.
─ Nem sempre vou poder ajudá-la, Serena. ─ respondeu, ainda sério.
Ela estranhou a atitude dele, mas não comentou mais nada. Quando deu um passo em sua direção, seu joelho doeu e, sem querer, soltou uma exclamação de dor.
─ Você está machucada, Serena. Quando vai deixar de ser teimosa, menina? ─ perguntou e a pegou no colo, antes que ela pudesse protestar. ─ Vou levá-la para minha casa para cuidar desse ferimento.
─ Foi só um arranhão, Dário... ─ ia começar, mas se calou. O colo dele era confortante.
Ele a depositou com muito carinho no carro dele e foram para a casa dele.
─ Mônica não vai estranhar você me trazendo para cá há essa hora? ─ perguntou Serena assim que chegaram.
─ Minha mãe foi a uma reunião das amigas dela. Não deve chegar cedo.
Ele a colocou sentada na mesa da cozinha e foi buscar o kit de primeiro socorros.