domingo, 23 de novembro de 2008

CAPÍTULO XI

"É o sofrimento, e só o sofrimento, que abre no homem a compreensão interior."
Gandhi


Dario acordou antes de o sol nascer, depois de uma breve cochilada. Serena dormia tranquilamente abraçada a ele. Era a primeira vez que dormia junto de uma mulher inocentemente. Pensou que estava realmente apaixonado por essa menina. Ele saiu devagarzinho da cama para não acorda-la e foi tomar banho. Antes de sair, deixou um bilhete para a mulher deitada em sua cama e beijo carinhosamente seus lábios.
Serena abriu os olhos e constatou que já era dia. Olhou a sua volta e viu que dormira na cama de Dario, mas nenhum sinal dele. Viu um bilhete ao seu lado e sorriu.
Meu amor, vou para a delegacia trabalhar e pensar nos últimos acontecimentos. Precisamos ter muito cuidado agora. Logo estaremos livres e a farei esquecer de todos os problemas. Adoraria estar aí para beijar essa sua boca deliciosa. Te amo, Dario!
Ela suspirou apaixonada e encontrou forças para se levantar da cama.
─ Dormiu bem, minha querida? ─ perguntou Mônica, entrando no quarto.
─ Bom dia, Mônica... ─ ia continuar quando percebeu que estava no quarto de Dario e ficou constrangida.
─ Não se preocupe. Dario já conversou comigo e sei que vocês ficaram analisando algumas coisas. Ele já me pôs a par de tudo. Vamos lá para baixo para você tomar café da manhã.

sábado, 15 de novembro de 2008

CAPÍTULO X (FINAL)

(...)
Dario parou no mesmo instante e a olhou apreensivo. Tudo o que via a sua frente era Serena trêmula e com os olhos arregalados de medo. Ele se sente extremamente culpado por essa situação.
─ Perdão, Serena. Não queria te assustar. Nunca foi a minha intenção... ─ foi apenas o que conseguiu dizer.
Ele não sabia mais como se retratar. O que fizera era imperdoável pois tinha certeza de que Serena tinha medo de amar e havia acabado de sofrer uma tentativa de violência nas mãos de Ricardo. Sabia que ela devia estar mais assustada do que nunca.
A fim de não piorar ainda mais a situação, ele saiu do quarto para se acalmar e voltar ao seu estado normal. Algum tempo depois, quando retornou, a encontrou sentada na cama e com o olhar vago.
─ Serena... ─ começou ele.
─ Dario, você está aborrecido comigo? ─ perguntou, ansiosa e interrompendo-o.
─ Claro que não, querida. Eu apenas saí do quarto para não te assustar mais. ─ respondeu, sentado ao seu lado e segurando sua mão ternamente. ─ Você me perdoa?
─ ... não há nada para perdoar. Eu que quero pedir desculpas... não, Dario... deixa eu terminar primeiro ─ pediu quando ele ameaçou interrompe-la ─ Eu juro para você que queria ir até o fim... mas lembrei do que aconteceu hoje...
Ele percebeu que ela se referia à Ricardo. Só de pensar nele, seu sangue fervia nas veias.
─ Se tem alguma coisa que tenho certeza... é que amo você.
─ Serena, quero saber o que aquele cretino do Ricardo fez com você. Preciso saber tudo.
Vendo que ele não desistiria, ela levantou-se da cama e caminhou até a janela. A noite estava linda, mas não conseguia apreciar o espetáculo. Pausadamente, narrou os acontecimentos, tais como sucederam. No final, sentiu os olhos marejados de lágrimas mas não as derramou. Apesar da raiva crescente que sentiu ao longo da narrativa, Daria apenas a ouviu e a abraçou. Sabia que ela precisa desse desabafo.
Algum tempo depois, os dois resolveram olhar todos os papéis. Dario conhecia a maioria dos nomes escritos na agenda. A maior parte era policial, que provavelmente eram pagos para acobertar as ações criminosas. Havia também nomes de médicos e de alguns políticos. Era uma máfia com um esquema muito bem elaborado.
─ Serena, esses papéis são provas muito importantes. Meu Deus! Juntando com minhas gravações e fotos, acho que podemos acabar com essa máfia.
─ Tem mais uma coisa. Minha mãe me deixou uma carta e uma chave de uma caixa postal. Com todos os acontecimentos recentes, esqueci da sua existência. Ela diz na carta que vou encontrar o que preciso com a tal chave. Mas preciso retornar a minha antiga cidade.
─ Posso ler a carta? ─ perguntou achando que poderia descobrir algo a mais sobre a sua amada.
Após pensar por alguns segundos, ela lhe deu o papel. Decidiu não esconder mais nada dele.
Ele pegou a carta e se sentou na cama para lê-la. Ao seu término, perguntou:
─ O que seu pai fez a vocês, Serena? ─ perguntou, desconfiando ser essa a raiz de todo o problema.
─ Meu pai era muito ciumento e fez de minha mãe prisioneira por muito tempo. Ele era violento também, principalmente quando bebia.
─ Alguma vez ele bateu em você ou no seu irmão?
─ Não. Eu aprendi a ficar longe dele quando estava bêbado. E minha mãe intervia quando necessário... Ele nem chegou a conviver com Lucas porque nos abandonou. Esse dia, Dario, foi o mais feliz da minha vida. Significava o começo de nossa liberdade e felicidade. Triste não?
─ Você sofreu demais, Serena. Acho que começo a entender porque sua mãe se envolveu nesse caso.
─ Meu pai... ele violentava minha mãe. Eu ouvia tudo do meu quarto... minha mãe pedindo que ele parasse, ela chorando... Mas nunca tive coragem de fazer nada.
E Dario também entendeu o porquê dela ter se envolvida nessa história.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

CAPÍTULO X (CONTINUAÇÃO)

(...)
Mesmo sem graça, sentiu o coração bater apressado. Olhou a sua volta com certa curiosidade. Havia uma cama de solteiro perto da janela, um armário, computador e uma TV. Era bem simples, mas com o jeito dele. E cheiro também.
“E que cheiro gostoso.” pensou, desesperada.
─ É sua cara também. ─ achou que devia fazer algum comentário.
─ Fique a vontade, Serena. Vou trocar de roupa e buscar alguma coisa para comermos. Já volto.
─ Obrigada.
Assim que ficou sozinha, não resistiu e se aproximou da cama dele para passar os dedos pelo edredom macio. Sensações estranham tomavam conta do seu corpo. Sem perceber o que fazia, libertou o cabelo do coque e foi olhar a vista da janela.
Era uma noite de lua cheia e o céu estava limpo e estrelado. Ficou tão entretida com a cena que não percebeu quando Dario voltou. Pouco tempo depois, ela sentiu sua presença.
─ Desculpa... a noite está tão bonita que perdi a noção do tempo.
Dario ficou em silêncio. Tinha nas mãos dois copos de leite e um pacote de biscoitos.
─ Você fica linda com o cabelo desse jeito. Devia usar mais assim.
─ Você acha? ─ perguntou ansiosa.
─ Na verdade acho que você deva usar só para mim. Não quero homem nenhum te admirando.
Serena sorriu, mas tinha o coração disparado novamente. Essas novas sensações a assustavam.
─ ... vamos começar a ler ... os papéis?
Ele fez que sim.
─ Mas tome primeiro um pouco de leite. Você precisa se alimentar.
Serena estendeu o braço para pegar o copo e acabou roçando na mão dele. O clima entre os dois estava tão tenso que foi o que bastou para a explosão de sentimentos. Os copos foram parar no chão, enquanto ele a trazia para junto dele.
Ele a beijava com uma paixão violenta, mas ela não estava com medo. Sabia que o amava e nada mais importava. Sentia as pernas bambas ao toque daquele homem forte. Suas línguas travavam uma guerra sensual, a mão dele descia desesperado pelas suas costas até chegar nas suas nádegas e a levantou do chão. Serena deu um murmúrio surpreendido e sentiu que ele a levava para a cama.
Ela sentia o desejo dele na sua cintura e tentava corresponder. Com as mãos percorria suas costas e peito. Sentia os músculos dele enrijecerem e isso a dava mais prazer. Deu um gemido rouco quando ele desceu a alça de seu vestido. Ele largou sua boca para buscar um dos seus seios. Mas imagens começaram a surgir na mente de Serena. Ricardo havia rasgado a alça do vestido para fazer o mesmo e, por mais que tentasse ignora-las, começou a sentir medo que estava por vir.
─ Por favor, Dario... não posso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CAPÍTULO X (CONTINUAÇÃO)

(...)Algum tempo depois, os dois estavam sentados no sofá, ainda abraçados.
─ Dario, deixei no carro os papéis que achei no escritório de Ricardo.
─ Que tipo de papéis?
─ Achei uma agenda com muitos nomes e telefones e uma pasta com fichas de pacientes. Não deu tempo de analisar com calma.
─ Como você conseguiu que ele saísse de casa?
─ Acho melhor não falarmos mais nisso, Dario... Por favor...
─ Está bem. Você tem razão. ─ disse resignado. ─ Serena, vamos voltar para a minha casa. Não vou voltar mais para a delegacia hoje. Minha mãe deve estar preocupada. Lá, poderemos conversar e analisar esses papéis.
Antes de saírem, Serena se lembrou da carta da mãe. Quando foi buscar a carta, lembrou do pequeno envelope com a chave. Pegou tudo com o propósito de mostrar para Dario quando chegassem em casa.

─ Minha filha, me desculpe por ter telefonado para meu filho, mas fiquei preocupada. Aconteceu alguma coisa?
─ Você fez muito bem, Mônica. Acho que vou te agradecer pelo resto da minha vida. ─ respondeu Serena sorrindo. ─ E desculpe por ter deixado você nervosa.
Mônica também sorriu e olhou significativamente para o filho. Sabia que algo tinha acontecido, mas que não queriam contar.
─ Bom, meus filhos, acho que vocês querem descansar.
Achando melhor não contrariar mais Mônica, Serena subiu com ela para o quarto. Trocou a roupa por uma camisola mais leve e juntou todos os papéis que estavam em sua bolsa, inclusive a carta da mãe. A noite seria longa.
Saiu do quarto de forma mais silenciosa que pôde. Não sabia se Dario ainda estava no andar de baixo ou se já tinha ido para o quarto. Quando já estava com um pé no degrau, Dario aparece ao seu lado, ainda no corredor.
Com o susto, ela se desequilibrou e, se não fosse por ele, teria caído. Os papéis foram parar todos espalhados pela escada.
─ Você não perde essa mania, Serena! ─ exclamou ele rindo, enquanto a ajudava a recolher tudo.
─ Eu ia te procurar para te mostrar todos os papéis.
─ Eu já apaguei tudo lá embaixo. Vamos para o meu quarto.
─ Mas... e se sua mãe acorda? O que ela vai pensar?
─ Serena, minha mãe já deve estar dormindo e eu não sou mais um menino.
─ Ah... como sou boba, né? Você já deve ter trazido muitas mulheres... ─ disse, abaixando o rosto e fingiu ajeitar os papéis que tinha nas mãos.
Ele a segurou pelo queixo e, com o polegar, fez carinho em sua bochecha.
─ Serena, quero que fique muito claro entre nós que eu nunca trouxe mulher alguma para a minha casa, muito menos para o meu quarto. E houve sim, outras mulheres... não sou nenhum santo, mas nenhuma igual a você. Vamos.
Ele a conduziu para uma porta no final do corredor.
─ Bom, aqui está meu quarto... você não queria conhecer?

CAPÍTULO X (CONTINUAÇÃO)

(...)Depois de pronta, desceu as escadas para enfrentar a verdade. Dario estava em pé na janela. Ela ficou parada na entrada, indecisa.
─ Serena, sei que você teve a melhor das intenções, mas se eu não tivesse chegado a tempo... ─ começou ele com a voz baixa e sem se virar ─ Você já pensou nisso?
─ Não. Mas você me salvou...
─ Sim. Eu a salvei
─ Como você me achou?
─ Minha mãe me ligou assim que você saiu de casa. Larguei tudo e vim te procurar aqui. Foi quando vi o carro daquele homem e entendi tudo. Achei melhor não intervir, mas te segui até você cometer a loucura de aceitar ir para a casa dele. Quando o vi te abraçando, fiquei louco, Serena. Senti um ciúme que não imaginava sentir por ninguém.
─ Mas você me salvou, Dario... ─ ela sentia a força que emanava dele.
─ Sim. Sempre a salvarei. ─ afirmou, voltando-se para ela. ─ Mas não consegui impedir que ele te tocasse... que te assustasse... que te fizesse chorar.
Sem querer, ela levou a mão à marca roxa de seu braço.
─ A culpa não é sua, Dario. Eu consegui algo...
─ E você acha que esse “algo” vale a sua castidade, meu amor? Sua inocência? Sua crença no amor é tão tênue que tenho medo que nem exista mais.
─ Como assim? ─ perguntou muito confusa com o que ele dizia.
─ Eu já sei de tudo. Sua mãe, Marisa, tinha dois filhos. Você e um menino... que coincidentemente chamado Lucas.
Serena levou a mão à boca de espanto. Não queria que ele soubesse a verdade desse jeito.
─ Quando ia me contar? Apesar de que desconfiei disso desde o nosso primeiro beijo.
─ Perdão, Dario... ─ tinha vontade de implorar, se necessário. Seu rosto já estava coberta de lágrimas ─ Eu juro que ia contar. Eu só queria proteger o meu irmão... ele é uma criança e não merece passar por tudo o que passei.
Dario cobriu a distância que os separava rapidamente e a abraçou.
─ Não chore, meu amor. Eu te amo tanto. Não suporto te ver sofrer mais. Confie em mim.

Eles ficaram assim, juntos em pensamento e corpo, por um tempo que nem eles mesmos sabiam determinar. Serena se lembrou de um poema de Carlos Drummond e, sem perceber, recitou em voz alta.

“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
(...)
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
(...)
Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
(...)”


* Poema “Amor” de Carlos Drummond de Andrade.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

CAPÍTULO X

A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita. (Mahatma Gandhi)

Assim que escutou a voz dele, correu para a sala. Ele estava com uma expressão séria no rosto e parecia que ia partir para cima de Ricardo a qualquer momento.
─ Onde está Serena? ─ perguntou, surpreendentemente, com voz controlada.
─ Estou... aqui... ─ respondeu, entrando na sala.
Quando Dario viu o estado em que ele se encontrava, fechou as mãos e sua expressão era de fúria. Mas o olhar de Serena dizia para ele se controlar.
─ Não entendo o que você quer com Serena, Dario? Não está vendo que estamos... ocupados?
─ Serena, seu filho precisa de você! ─ foi a única coisa que ele disse.
─ Claro... desculpa... preciso ir embora. ─ não sabia nem de onde tirava forças para falar alguma coisa.
Mesmo com passos vacilantes, caminhou na direção de Dario.
─ Tem certeza, Serena? ─ perguntou Ricardo, segurando seu braço.
Ela percebeu que Dario chegou a dar um passo na direção de Ricardo. Desesperada para sair dali e se livrar do toque daquele homem, ela disse:
─ Meu filho precisa de mim. Sinto muito.
E com toda a força que tinha, saiu do apartamento dignamente. Dario ainda deu uma última olhada para Ricardo, mas pensou melhor e saiu atrás dela.
Assim que sentiu o ar fresco no rosto, sentiu as lágrimas descendo de novo. Dario segurou sua mão e a fez entrar no carro. Sentia que ele estava a ponto de explodir, mas ela estava tão cansada e fraca.
─ Vou levar você para sua casa primeiro. Não quero que minha mãe a veja assim. ─ foi a única frase que ele disse no trajeto inteiro.
Serena ficou o tempo todo com o rosto virado para o outro lado, tentando esconder as lágrimas que teimavam em vir. Mas o que realmente queria, era esconder o rosto no peito de Dario e chorar muito.
Mas achava que ele ia pensar que era fraca.
Assim que ele estacionou o carro, ela abriu a porta antes de dar chance dele ajuda-la. Queria lavar o rosto e o corpo. Mas, por estar fraca ainda, assim que saiu do carro sentiu o sua visão falhar e achou que fosse desmaiar.
─ Dario? ─ chamou as cegas.
─ Estou aqui ao seu lado, meu amor... ─ e tudo sumiu de vez.
Quando abriu os olhos, viu que estava no sofá da sala de sua casa. Dario estava ao seu lado e sorriu quando ela acordou.
Involuntariamente acabou sorrindo também. Mas logo depois se lembrou de tudo.
─ Dario, sei que você está irritado comigo e que precisamos conversar. Mas quero tomar um banho e me trocar, ta?
─ Vou te ajudar a subir as escadas.
Assim que viu sua imagem refletida no espelho, levou um choque. Estava com a maquiagem borrada, o vestido todo amassado e rasgado e seu braço esquerdo estava com uma marca roxa. Marca de uma mão.
Rapidamente, tirou toda a roupa e jogou na lixeira. Entrou debaixo do chuveiro e ficou até se sentir limpa.

CAPÍTULO IX (FINAL)

─ Não, minha filha. Dario me mata se chegar em casa e não te encontrar.
─ Mônica, confie em mim. É realmente muito importante. Preciso passar na minha casa primeiro.
Serena saiu apressada e nem deixou Mônica dizer mais nada. Quanto menos informações, melhor.
Chegando em casa, correu para seu quarto para se arrumar. Tinha que estar atraente. Era essencial para que seu plano funcionasse. Por isso escolheu um vestido preto justo com um leve decote em “V” de alças finas e, apesar do calor, colocou meias-calças pretas com um sapato de salto alto. Prendeu o cabelo num coque do melhor jeito que conseguiu e pôs uma leve maquiagem. Quando olhou sua imagem refletida no espelho, achou que estava bom. Só uma leve sensação de culpa a acompanhava. Sabia que Dario a desaprovaria totalmente. E preferia estar se vestindo assim para ele. Mas uma buzina a trouxe para a realidade.
Serena e Ricardo jantaram num restaurante bem calmo. Como estava nervosa, comeu muito pouco, mas percebeu que Ricardo estava exagerando no vinho tinto. Ela fingia que bebia o conteúdo de sua taça e ele acabou bebendo sozinho quase duas garrafas inteiras do vinho. Ela fez o possível para agradá-lo com sorrisos e palavras gentis. Conversaram assuntos banais no restaurante e, quando estavam caminhando para o carro, finalmente veio a proposta que estava esperando ansiosa.
─ Serena, acho que você já deve ter percebido minhas intenções. ─ disse, antes de entrarem no carro, com voz meio enrolada.
─ E quais são? ─ disse com voz inocente e um pouco sedutora.
─ Acho que te desejei desde o primeiro momento que você apareceu na redação, Serena. Quero te beijar agora...
Quando ela percebeu que ele ia abraçá-la, deu um passo para trás e disse:
─ Não podemos ir a um lugar mais... digamos reservado?
─ É o que eu mais quero, Serena. Vamos para minha casa. ─ disse com olhar lascivo.
“Além de ser bandido e estar bêbado, não sabe nem seduzir uma mulher!” pensou ela com ironia. Mas tudo não podia estar melhor. Deu graças por ele morar perto porque ele estava sem condições de dirigir por muito tempo. Assim que saíram do carro, ele passou o braço por volta da sua cintura e, apesar de sentir nojo, achou melhor deixar.
─ Bem vinda a minha casa, pequena! Não vamos mais perder tempo... ─ disse tentando agarrá-la.
─ Você não tem... uma bebida? Um champanhe, quem sabe?
Ele pensou por alguns instantes, enquanto ela rezava para que ele não tivesse.
─ Não tenho champanhe... mas podemos tomar vinho... e depois...
─ Não... ─ Serena precisou se conter para não gritar. ─ Por favor, meu querido... essa noite tem que ser especial.
─ Se você me trouxer uma taça de champanhe, prometo que nossa noite vai ser mais do que especial.
Ricardo a olhou por alguns poucos segundos, mas a idéia do que poderia acontecer depois o agradou.
─ Vou trazer seu champanhe, minha princesa... mas vou cobrar a promessa... esteja certa!
Assim que ele saiu da casa, Serena começou sua busca desesperada.
“Tenho que encontrar alguma prova!” era só o que pensava. Entrou no quarto dele e revirou todas as gavetas rapidamente, debaixo do colchão e nada.
Depois achou seu escritório e vasculhou em todos os cantos e armários. Já estava desanimando quando percebeu que uma das gavetas tinha uma chave.
“Chave? Onde será que está a chave?” Imediatamente lembrou que ele havia saído sem o paletó. Correu para a sala e achou no bolso um molho de chaves. Provavelmente estava tão bêbado que não lembrou da importância das chaves.
Após algumas tentativas, conseguiu abrir a gaveta e no seu interior havia uma pasta de papel. Abriu a pasta e achou uma agenda com vários nomes e telefones e várias fichas de pacientes, de diferentes hospitais.
“Bingo!”
Mas nem deu tempo de comemorar, pois escutou a porta da sala abrindo. Rapidamente, correu para o quarto dele, que era ao lado do escritório e tirou o casaco para esconder a pasta.
Nem bem fez isso, Ricardo entra no quarto com uma taça de champanhe.
─ Você está aqui, minha princesa. Trouxe seu champanhe, mas vejo que já me esperava ansiosa.
Ela pegou a taça automaticamente e bebeu um gole. O medo começou a brotar no seu coração, pois não sabia como fugir. Não havia pensado no que fazer depois. Havia sido impulsiva.
─ Para que perder mais tempo, Serena?─ perguntou com a voz mais enrolada ainda, agarrando ela e a pressionou contra a parede atrás.
Serena sentiu os lábios daquele homem no seu pescoço e seu corpo todo tremeu de medo e nojo. O desespero começou a tomar conta dela e não conseguia mais pensar em nada. Só sabia que precisava lutar.
─ Não! Me solte, por favor! ─ gritou desesperada.
Mas Ricardo não a ouvia mais. Ele estava muito excitado com toda a situação. Sentiu as mãos dele rasgando sua meia, quando tentava subir seu vestido. Como vestido era um pouco justo, resolveu tentar a sorte por cima. Sem pensar mais e ignorando os gritos desesperados de Serena, acabou por rasgando uma das alças do vestido. Ele era tão forte que machucava o braço de dela.
─ Socorro! ─ gritava chorando, mas não se rendia.
Achando que não ia se salvar, começou a pedir ajuda de sua mãe. Foi quando a campainha tocou, insistentemente.
Ricardo pareceu recuperar a razão nesse momento. Soltou Serena tão de repente, que ela acabou escorregando para o chão. Ela chorava copiosamente, mas agradecia a interrupção divina.
─ Já volto!─ disse ele.
Serena se deixou ficar ali por us segundos apenas. Precisava fugir dali. Pegou as provas que estavam enroladas no seu casaco e sua bolsa e olhou a sua volta. Não sabia por onde ir quando avistou as janelas. Mas antes de fazer qualquer coisa, escutou uma voz conhecida na sala.
A voz do seu amor.
─ Dário... ─ murmurou aliviada.

CAPÍTULO IX (CONTINUAÇÃO)

(...)
Rapidamente, ela abaixou para juntar tudo antes que ele tentasse ajudar ou comentasse mais alguma coisa.
Depois de tudo pronto, ele a levou para uma lanchonete e comprou uma taça de sorvete para ela.
─ Tem tanto tempo que não tomo sorvete. E como você adivinhou que gosto de chocolate?
─ Acho que a maioria das mulheres adora chocolate. ─ respondeu rindo.
─ E aposto que você conheceu muitas mulheres...
Dario, que estava sentado a sua frente, se levantou e foi se sentar ao seu lado.
─ E o que você sente a respeito disso? ─ perguntou, perigosamente perto.
Ela ia responder quando percebeu que alguém parou ao seu lado.
─ Lisa? O que faz aqui?
Mas Lisa tinha no olhar uma raiva inexplicável.
─ Vim fazer um lanche... não estamos numa lanchonete? ─ respondeu sarcasticamente ─ Oi Dário, tudo bem com você? Sabe, tentei te ligar ontem porque queria fazer uma reportagem...
─ Não recebi nenhuma ligação sua, Lisa. Mas já te adianto que minha resposta continua sendo não. Passar bem.
Lisa ficou muda por alguns instantes.
─ O sr. Ricardo estava te procurando, Serena. Parece que ele quer mais alguma reuniãozinha com você.
─ Escuta aqui, Lisa. Não se meta comigo!
─ Eu? ─ perguntou com a voz inocente.
─ Lisa, por favor, nos deixe a sós. Você não veio fazer um “lanche”? ─ interrompeu Dario.
Vendo que não tinha mais o que fazer, deu meia volta e saiu da lanchonete.
─ Que mulherzinha chata! Se eu soubesse que íamos encontrar ela, nem tinha te trazido... não quero que você se aborreça, Serena. ─ disse, ameaçando voltar para seu lugar.
Serena segurou seu braço, impedindo-o.
─ Você havia me perguntado antes o que eu sentia a respeito de você ter conhecido muitas mulheres...
─ O que você sente? ─ perguntou com voz rouca e aproximando o rosto cada vez mais perto do dela.
─ Ciúmes. E arrependimento por não ter te conhecido antes...
E, como das vezes anteriores, o momento foi mágico. Ele a beijou com tanto carinho que ela sentiu lágrimas nos seus olhos. Queria tanto abrir seu coração para ele. Queria tanto dizer que o amava!

Mais tarde nesse dia, Serena se encontrava deitada em sua cama quando o celular tocou. Já eram 21 horas e quem ligava era Ricardo. Ela pensou por alguns instantes e atendeu a ligação.
─ Alô? Serena? ─ perguntou Ricardo, do outro lado da linha.
─ Sim, eu mesma... ─ respondeu, fingindo não saber quem era.
─ É o Ricardo. Fiquei sabendo que você passou mal. Está tudo bem?
─ Já estou melhor. Obrigada por perguntar, Ricardo.
─ Bom, estou ligando para te convidar para jantar... para se distrair um pouco. Você topa? ─ perguntou um pouco ansioso.
Serena ficou em dúvida, mas achou que era uma ótima oportunidade. Dário teve que voltar a delegacia e só Mônica estava em casa. Sabia que Dário nunca a deixaria ir, mas sabia que era uma oportunidade única.
─ Claro. Você me busca em casa?

CAPÍTULO IX

A ação nem sempre traz felicidade, mas não há felicidade sem ação. (Benjamin Disraeli)

─ Onde estou? ─ perguntou Serena, sonolenta.
─ Você está no hospital. Lembra de algo antes de ter desmaiado?
Serena tentou focalizar a vista e percebeu que falava com um médico.
─ Lembro que eu estava conversando com Mônica.
─ Que bom. Serena, você teve uma queda de pressão e desmaiou. Nada demais. Estava há quanto tempo sem se alimentar?
─ Não sei bem... e meu ir... filho Lucas?
─ Ele está com a babá. Não se preocupe... vou te liberar já, está bem Serena? Procure se alimentar de 2 em 2 horas até amanhã. E beba bastante água. Alguém vai te levar em casa?
─ Acho que...
─ Eu a levarei, Dr. Farias. Não se preocupe. Ela está em boas mãos. ─ disse Dario, entrando no quarto.
Serena chegou a sorrir quando o viu. Estava sem uniforme e mais charmoso que nunca.
─ Serena, pode ir se arrumando. Vou passar algumas recomendações para Dario.
O medicou levou Dario para fora do quarto.
─ Dario, faça essa moça se alimentar e não deixe que ela sofra nenhum estresse por essa semana. Ela teve uma queda de pressão séria. Sua mãe me disse que ela está passando por alguns problemas. Provavelmente não agüentou toda a pressão.
─ Pode deixar comigo.


─ Serena, você quer ir para casa ou prefere ficar comigo e minha mãe? Na minha casa você será bem cuidada.
─ Não quero dar trabalho, Dario. Já estou melhor.
─ Você se faz de durona, mas acho que é frágil. Vamos passar na sua casa para você pegar algumas roupas e ficar conosco essa noite, pelo menos. Lucas vai ficar bem com a Martha.
Ela ia retrucar, mas desistiu. Sabia que ele estava decidido e tinha que reconhecer que ainda estava se sentindo bem fraca.
Ele a olhou rapidamente pelo canto do olho e deu um leve sorriso, apesar de gostar quando ela se fazia de brava.
Ele estacionou o carro na frente de sua casa. Serena reparou que a grama estava muito alta. Não tivera nem tempo de contratar um jardineiro.
─ Tenho que separar roupas pro Lucas também?
─ Não precisa. Tomei a liberdade de trazer Martha e ela já pegou tudo.
Serena só assentiu com a cabeça. Quando ia subir as escadas, sentiu mais uma vez fraqueza e cambaleou. Sem dizer nada, ele a pegou no colo e subiu as escadas. Perguntou onde era o quarto e entraram.
─ Você ficou quanto tempo sem se alimentar, Serena? ─ perguntou enquanto ela tirava uma bolsa debaixo da cama.
─ Não sei bem...
Enquanto separava algumas mudas de roupa, reparava que Dario olhava o quarto com interesse. Por isso não se surpreendeu quando ele comentou:
─ Seu quarto é do jeito que eu esperava.
─ E como você esperava?
─ Um quarto muito claro, limpo, organizado e bem... digamos, feminino.
─ Não é justo... agora você conhece meu quarto mas não conheço o seu.
No mesmo instante, percebeu que falara demais. Dario a olhou com um brilho no olhar e respondeu:
─ Quando você quiser Serena...
─ Desculpe... as vezes falo sem pensar.─ disse, muito envergonhada.
─ Não há porque pedir desculpas.
Serena se virou para o armário para disfarçar seu embaraço e lembrou que tinha que pegar roupas íntimas também. Tentou pegar o mais rápido que pôde e escondeu dentro das suas roupas para Dario não perceber. Mas, como sempre era uma desastrada perto dele, deixou o bolo de roupa escorregar das mãos e tudo ficou a vista dele.
─ Você e sua mania de derrubar tudo nos meus pés. Estou achando que é algum truque seu, Serena. ─ perguntou, num tom levemente malicioso.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CAPÍTULO VIII (FINAL)

Era um dia lindo de sol. As flores haviam desabrochado e Serena acenou para sua mãe. Ela estava linda com um vestido florido lilás. Lilás era sua cor favorita. Marina estava sorrindo e segurando uma criança... era Lucas. Serena estava em pé na entrada de uma casa grande... mas a mãe não se aproximava. Ela se perguntava o porquê desse distanciamento. De repente, um homem alto surge ao lado da mãe e a puxa. Era seu pai, Juca. Ele estava com a mesma expressão desagradável de sempre. Os três somem num piscar de olhos. Serena fica assustada e chama pela mãe. Percebe que a casa sumiu... estava num cômodo agora... a porta se abre e o pai volta. “Você vai comigo, Serena, minha filha! Seu lugar é junto da sua família!”. Serena grita quando ele a segura pelo braço, mas uma outra pessoa entra e abraça. “Ninguém vai te ferir, meu amor! Vou proteger sempre!”. Era Dario. Lindo como sempre. E se deu conta que amava muito aquele policial.

Serena abriu os olhos e se viu num quarto de hospital.
─ Dario? ─ chamou a única pessoa que importava naquele momento.
─ Minha filha, Dario foi levar Lucas para ficar com Martha hoje à noite. ─ respondeu Mônica, que estava sentada numa cadeira ao lado da cama. ─ Ele já deve estar voltando.
─ Mônica, eu descobri...
─ O que, minha filha? ─ perguntou, paciente.
─ Eu amo seu filho... muito... será que ele... ─ mas adormeceu de novo.
Mônica sorriu e levou à mão a testa de Serena. Sabia que essa menina precisava de muito carinho. Quando olhou para a porta, viu seu filho. Ele estava visivelmente emocionado, mas sorria.
─ Mãe, o que será que ela ia perguntar?
─ Acho, meu filho, que ela ia perguntar se você a ama também. Você a ama? Filho, essa menina tem medo de amar. Alguma coisa aconteceu a ela no passado e algo me diz que tem mais alguma coisa nessa história que nós não sabemos.
─ Eu também sinto isso. Mas resolvi respeitar o tempo que ela precisa, mãe. ─ disse, com voz baixa. ─ Vou dar um pulo na delegacia e já volto.
─ E mãe? Eu a amo muito sim. ─ disse antes de fechar a porta.
Mônica apagou a luz e voltou a se sentar na cadeira. Estava preocupada com Serena. Mas não sabia por quê.

CAPÍTULO VIII (CONTINUAÇÃO)

(...)Percebendo que não era mesmo o lugar certo, Dario caminhou na direção do outro policial. Serena ficou observando ele se afastar e não pôde deixar de sentir seu coração bater forte.
─ Serena, me dá o pão?
─ Claro... aqui está. Fica perto de mim, Lucas...
─ Serena?─ Mônica estava ao seu lado.
─ Oi Mônica, tudo bem?
─ Comigo está minha filha, mas você que não está bem. Você está abatida... tem se alimentado bem?
Serena não pôde deixar de sorrir para a bondosa senhora que a tratava com o carinho de uma mãe.
─ Estou bem sim... só alguns problemas... digamos pessoais.
─ E... esses problemas pessoais envolvem meu filho Dario? Acertei?
─ Minha filha, acho que posso ser sincera com você... se tem uma coisa que posso me orgulhar é não ser daquelas sogras chatas e intrometidas... mas também não posso ver meu filho sofrendo quieta.
─ Ele está sofrendo?─ perguntou num fio de voz.
─ Ele não abriu a boca para falar nadinha comigo, mas eu sei. E tenho certeza de que vocês estão brigando por bobeira. Por experiência própria, não percam tempo com besteiras.
─ Ah, Mônica... mas não é tão simples assim.
─ Serena, sei quem você é. No dia que você me perguntou sobre o emprego de jornalista, desconfiei. Minha filha sou velha, mas não sou boba... liguei os sobrenomes. Meu filho tava tão ocupado investigando algo que não sei ainda, que não ligou os nomes logo. Mas nós sabemos que você ainda esconde algo. Por que você não se abre comigo?
Serena ficou quieta por alguns minutos. O céu estava muito azul e o sol brilhava forte. Lucas estava se divertindo com os patos. De repente, o ar começou a faltar e Mônica começou a sumir da sua vista.
─ Dario!!! ─ só escutou Mônica gritando e tudo sumiu da sua frente.

CAPÍTULO VIII (CONTINUAÇÃO)

(...)Sem responder, Dário a levou para fora do prédio. Serena preferiu não falar nada até estivessem longe da redação.
─ Dário, não é nada disso do que você está pensando.
─ E o que você acha que estou pensando?
─ Bem... provavelmente é mesmo o que você está pensando... mas acho que precisamos disso. E você sabe bem disso, apesar de não querer concordar!
Dário a olhou nos olhos por alguns instantes com um misto de raiva, surpresa e dor refletidos nos olhos. De repente beijou Serena com um misto de violência e paixão.
─ Eu sei que te conheço há pouco tempo, mas meus sentimentos são muito fortes. Só de imaginar você conversando com aquele cretino, o sangue me subiu a cabeça.
Serena ficou um pouco espantada pela violência dos beijos, mas soube entender e tentou esconder a sua inexperiência. Ela sabia que devia conversar com ele sobre Lucas e seu pai, mas esperava o momento certo.
─ Você me promete uma coisa, Serena?
─ O que?
─ Que não vai deixar esse homem encostar um dedo sequer em você.
─ Dário... não sabia que... você pudesse pensar isso... ─ foi apenas o que conseguiu dizer. Não esperava que ele sequer pensasse que ela deixaria Ricardo beija-la. Ainda mais estando tão apaixonada por Dário assim. Mais uma vez a palavra confiança vacilava na sua mente.
Não sabia explicar, mas se sentiu vazia e triste. Precisava se afastar dele e ficar sozinha.
─ Dário, não estou com fome. Preciso voltar para a redação.
─ Mas...
─ Não me procure mais na redação, por favor. Depois conversamos... me desculpe.
E deu meia volta e fugiu.

Passaram-se dois dias completos. Era manhã de Domingo e Serena estava passeando com Lucas no parque. O menino adorava aquele lugar e sorria o tempo todo. Já Serena era o oposto. Estava abatida e triste. Pensara muito no pai nos últimos dias e chegara a conclusão de que ele era o culpado por suas inseguranças. Principalmente na questão do amor. Ela havia absorvido toda a incerteza e medo que a mãe viveu. Sabia que precisava conversar com Dario, mas se perguntava se poderia confiar nele.
─ Serena... podemos ver os patos?
─ Claro, meu anjo... vamos até o lago.
Assim que chegaram ao lago, ela abriu a bolsa para procurar uns pedaços de pão que trouxera para Lucas alimentar os animais. Mas na hora que foi puxar o saquinho, seu celular acabou voando longe. E foi parar no pé de um homem que estava caminhando na sua direção. E esse homem era Dario, que estava lindo no seu habitual uniforme de policial. Serena também notou que ele estava abatido.
─ Olá, Serena. ─ cumprimentou ele─ Olá Lucas!
─ Você pode me levar lá?─ perguntou o menino, apontando para o lago.
─ Lá é perigoso, rapaz. Sua mãe não vai deixar.
─ Minha mãe não...
─ Não vai deixar mesmo! ─ cortou ela, percebendo que o menino ia dizer algo comprometedor.
─ Serena, até quando você vai fugir de mim? Te ligo todos os dias e você não atende.─ perguntou com voz cansada.
─ Desculpa, Dario. Ando realmente ocupada.
─ Ocupada com o que? Com Ricardo Fray? Faz idéia do perigo que você está correndo?
─ Dario, aqui não é o lugar mais adequado. Todos estão curiosos.
─ Policial Saros? Pode vir aqui um instante?─ chamou um outro policial.
─ Dario, você está de serviço agora. Prometo que iremos conversar no momento certo.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

CAPÍTULO VIII (CONTINUAÇÃO)

(...)

Serena nem percebia que era alvo dos pensamentos de Lisa. Havia ligado o seu computador, mas olhava a tela sem, no entanto, ler nada. Por fim, tomou uma decisão e abriu sua gaveta para pegar a matéria que havia terminado na noite anterior. Olhou sua imagem em um pequeno espelho que guardava na bolsa e não ficou nada satisfeita com sua imagem. Estava abatida e com olheiras - resultado de uma noite mal dormida - mas ajeitou o máximo que pôde em sua aparência.
Firme em sua decisão, ela caminhou com passos decididos para a sala do seu chefe.

─ Posso entrar, sr Fray? ─ perguntou, batendo na porta.
─ Claro, Serena. ─ respondeu ele rapidamente.
─ Vim trazer a matéria que o senhor me pediu. Desculpe a demora... ─ disse em um tom o mais doce possível.
“Vou procurar nos hospitais... se achar um doador compatível neles, será muito mais fácil e ninguém suspeitará se o paciente morrer... acidentalmente!.” Essa frase não saia da cabeça de Serena e, olhando no rosto do autor dela, ela só conseguia sentir revolta e raiva.
─ Como não irei desculpar uma moça tão... talentosa! ─ disse em tom sedutor, deixando claro suas segundas intenções.
Deixando de lado sua aversão, Serena se esforçou para sorrir e sentou numa cadeira de frente para a mesa de Ricardo.
─ Fico muito feliz em contar com sua admiração, Sr.
─ Por favor, Serena, nada de senhor. Apenas Ricardo. Pode deixar que leio a matéria hoje mesmo.
Ela, ao invés de deixar o papel sob a mesa dele, se levantou estendeu a mão para entregá-lo.
─ Gostaria que o senhor desse ênfase em alguns pontos que sublinhei. ─ disse, inclinando-se e ficando mais perto dele para mostrar algumas partes do texto.
Ricardo pareceu entender a insinuação, pois nem olhou para onde ela apontou.
─ Estarei em minha mesa, caso precise de mim... Ricardo. ─ disse e saiu da sala, sem esperar resposta.
Com um leve sorriso no rosto, encaminhou-se para sua mesa. Com surpresa, encontrou Dário sentado em sua cadeira e com cara de poucos amigos.
─ Serena, Dário estava te procurando e como não sabia se iria demorar, tomei a liberdade de convidá-lo a sentar enquanto esperava você vir de sua pequena reunião com o sr. Fray. ─ disse Lisa, adiantando-se a Dário e destilando seu veneno.
─ Obrigada, Lisa. Você foi muito prestativa. ─ respondeu sarcástica.Assim que Lisa voltou a sua mesa, Serena voltou-se para Dário, que continuava quieto. Quieto demais.
─ Tudo bem, Dário? Não te esperava por aqui...─ disse sem graça.
─ Percebi que não. Vim te convidar para almoçar... mas se tiver livre, né?
─ Estou livre sim. Vamos? ─ perguntou ansiosa, antes que ele comentasse algo que a denunciasse para Lisa.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

CAPÍTULO VIII

A coragem é a primeira das qualidades humanas,
porque é a qualidade que garante as demais.

Winston Churchill



O dia seguinte foi muito difícil para Serena, pois teve que fingir para todos na redação que nada acontecera na noite anterior.
Ela e Dario ficaram quase duas horas no galpão antes de irem embora. Ambos ficaram calados o caminho inteiro, como se tivessem medo de comentar sobre o que escutaram. Quando ele estacionou na porta de sua casa, saiu do carro e caminhou com ela até a entrada. Depois a abraçou ternamente e beijou seus lábios rapidamente.
─ Preciso que você confie em mim, Serena. Não quero que faça nenhuma loucura. ─ disse isso e foi embora.
E as palavras dele estavam em sua mente até agora.
Apenas uma pessoa na redação percebeu que alguma coisa estava errada com Serena. Lisa olhava discretamente para ela de sua mesa e percebeu como estava dispersa. Não era o natural da sempre trabalhadora Serena!
“Alguma coisa aconteceu ontem. E vou descobrir o que é!” pensou Lisa, determinada.
(...)

CAPÍTULO VII (FINAL)

─ Lugar perfeito para encontros secretos. Será que minha mãe veio parar aqui?
─ Provavelmente. Por isso temos que ter muito cuidado.
Ambos ficaram por quase 10 minutos no mais absoluto silêncio e muito tensos. Somente quando um carro se aproximou que Dario fez um gesto para que ambos se encolhessem o máximo possível. Serena pôde ver que era Ricardo quem chegava e estava acompanhado por um outro homem. Eles desceram do carro em silêncio e entraram no galpão. Alguns minutos depois, um outro carro chegou com mais dois homens.
Serena tirou do bolso da saia um bloco e um lápis e fez algumas anotações. Depois ambos tentaram ouvir ao máximo o que se passava dentro do galpão. E não foi nada bom de se ouvir.

sábado, 12 de janeiro de 2008

CAPÍTULO VII (CONTINUAÇÃO)

Peço desculpas pelo meu sumiço... mas final de ano foi difícil mesmo! Ainda mais com defesa de projeto de mestrado e tudo o mais! Vamos ver se consigo agora continuar regularmente! Abraços!

(...)
─ Sério, Serena. Se ele descobrir quem é você...
─ Dário, vamos pensar no agora. Temos que ir a esse tal galpão abandonado daqui à uma hora. ─ disse, interrompendo-o.
─ Nós não “temos” que ir. Eu, sim.
─ Se você acha que vou ficar sentada aqui, está muito enganado. ─ disse em tom sério ─ Tenho motivos de sobra para resolver essa história tanto quanto você, Dario! Não quero brigar com você!
Por fim, Dário acabou cedendo e, juntos, foram para o galpão abandonado. No caminho, Serena ligou para Martha e pediu que ficasse mais um tempo com Lucas.
Já era perto das onze quando chegaram ao galpão, que ficava no fim de uma estrada deserta e mal sinalizada. O galpão estava muito mal conservado e havia muitos buracos nas paredes. Dário estacionou o carro no meio do mato e terminaram o percurso a pé. Ele indicou o melhor local para ficarem escondidos e que pudessem ouvir a conversa.
─ Aqui funcionava uma fábrica de roupas há uns 10 anos. O dono, infelizmente, faliu e a fábrica fechou. Nada mais funcionou aqui desde então. ─ explicou Dário, em voz baixa.
(...)