quinta-feira, 7 de outubro de 2010

CAPÍTULO XV (FINAL)

Os três tomaram café-da-manhã juntos, parecendo uma família. Lucas gostava muito de Dario, o que completava a felicidade de Serena.
― Você vai precisar voltar para a delegacia, Dario? ― perguntou, após o café num tom meio triste.
― Não... preciso de um...hã... descanso.― respondeu com voz marota. ― Hoje vou deixar meus problemas de lado.
Ela lhe deu um sorriso lindo e feliz.
― Minha mãe vai tomar conta de Lucas, Serena. Pensei que a gente pudesse jantar juntos hoje. O que você acha? Quero conversar com você a sós. ― foi o que ele disse, após o café da manhã.
Dimitri, que já havia acordado e tomado o café, entrou na cozinha neste momento, interrompendo a conversa dos dois.
― Que bom que ainda está aqui, Dario. Preciso te mostrar uns papéis. Prometo não tomar muito o seu tempo.
Percebendo seu olhar indeciso, Serena disse para ele ir, enquanto ela cuidava de Lucas e das malas.
Uma hora depois, a pedido de Dario, Mônica chegou e ficou com Lucas. Serena já havia deixado tudo arrumado para a volta ao lar e resolveu tomar um banho. Só então percebeu que havia algumas manchas nas suas coxas e no lençol. Sentindo seu rosto ficar rubro, mesmo estando sozinha no quarto, tirou o lençol, dobrou e guardou numa bolsa. Sentiu-se uma idiota por não ter lembrado isso antes. Estava abrindo a mala para pegar uma muda de roupa limpa quando Dario entrou no quarto, sem fazer barulho.
― Já tomou seu banho, Serena?― perguntou ele, ao seu lado, assustando-a como sempre.
― Dario! Você precisa parar com essa mania de chegar sem fazer barulho.
Ele deu uma risada e a abraçou.
― Por que? Adoro seu rosto assustado... então, já tomou seu banho?
― Bem... não...
― Que bom...
Percebendo suas intenções, Serena disse rapidamente, um pouco nervosa:
― Dimitri não precisa mais de você?
― Não.
― Tem certeza?
Dario percebeu algo de estranho no tom de voz dela e, levantando seu queixo com a mão, perguntou o que havia de errado.
― Nada, Dario. Só não quero atrapalhar seu trabalho. ― responder rápido e afastando-se.
― O que foi, Serena? Acho que você não precisa mais ser tão reservada assim comigo!
Ela suspirou e sentiu-se mais ridícula ainda.
― Dario, você vai me achar muito boba...
― Nunca! Amo você demais, Serena. Depois de tudo o que vivemos ontem, nunca mais poderia achá-la boba.
― Mesmo depois de todas as outras mulheres experientes...
Ele pôs um dedo em sua boca, silenciando-a.
― Que mulheres? Só você importa para mim...
Dario, então, a trouxe para junto do seu corpo e a beijou apaixonadamente. Sua mão já desatava o nó do robe, quando sentiu a mão trêmula dela na sua.
― O que há, Serena? ― perguntou com a voz rouca.
― Posso entrar no banheiro... antes?
― Eu pensei em entrar com você... você não quer? Eu te machuquei, Serena? Diga-me a verdade!
― Não! Claro que não... é que só agora percebi... que estou um pouco... eu tinha esquecido disso. Sou muito boba!
Só levou uns poucos segundos para ele conseguir entender o que a afligia.
Sem dizer mais nada, a pegou no colo e a levou ao banheiro.
― Vamos tomar banho juntos... eu vou te limpar. Não quero mais que você tenha vergonha comigo.
E assim, entraram no banheiro juntos. Dario foi muito cuidadoso e carinhoso com ela. Sabia que precisava ter paciência com ela. Depois do banho, ambos se entregaram a uma longa tarde de amor.


Serena tamborilava os dedos ansiosamente na sua mesa. Estava nervosa e não conseguia esconder. Na tentativa de se acalmar, olhou a sua volta e percebeu que estavam todos trabalhando normalmente no escritório. Era o seu primeiro dia de trabalho após o tempo que ficara escondida. Sua matéria tinha saído como notícia de primeira folha três dias antes e muitos funcionários se perguntavam como isso podia ter acontecido dentro do próprio jornal. Na opinião de Serena, foi uma virada de jogo estratégica a publicação da matéria denunciando todo o esquema do tráfico. Mas não era isso que preocupava Serena.
Ricardo Gray ainda estava desaparecido e faltavam algumas peças do quebra cabeça. Ela já tinha retomado sua vida normal há alguns dias, mas o fantasma desse homem ainda a perseguia. Quando estava escondida, tudo o que mais queria era voltar a sua vida normal, mas tinha que reconhecer que se sentia mais protegida na casa de Dimitri. Nesse dia, especificamente, estava sentindo uma sensação diferente, como se algo fosse acontecer. Claro que nunca ia dizer isso para Dario, pois ele já andava preocupado demais. Pensar em Dario sempre a fazia relaxar, então voltou sua atenção novamente para a tela do computador.
― Serena Hill!― alguém chamou seu nome.
Quando levantou o rosto em direção a voz, viu a secretária do diretor geral ao seu lado. Era uma mulher já idosa e, apesar do tamanho miúdo, muito decidida.
― Sim?
― O sr. Silva quer falar com você. Está ocupada?― perguntou levantando a sobrancelha.
― Não, claro que não.
― Então me acompanhe, por favor.
As duas caminharam silenciosamente pelo corredor até o elevador.
― Bela matéria, Hill. Como se sente com o sucesso?
― Bem... eu tinha motivos pessoais envolvidos. Mas não posso dizer que estou satisfeita ainda.
― Entendo. Mas logo vão prender Ricardo Gray. Ele enganou a todos. O Sr.Silva não gostou nem um pouco de ter um funcionário desse porte envolvido nessa história toda, mas você soube virar o jogo. Acho que terá uma boa recompensa. Bom, chegamos... pode entrar, Serena. Ele te espera.
Serena passou a mão no cabelo, tentando arrumar da melhor forma possível, e entrou na ampla sala iluminada do diretor. Caminhou até a mesa central, onde havia um homem calvo sentado falando no telefone. Quando chegou perto, o homem fez um gesto para ela se sentar.
― Eu estava querendo muito te conhecer, Serena. ― disse ele, assim que desligou o telefone― Desde que sua matéria foi publicada, meu telefone não pára de tocar. Confesso que ficamos chocados com tudo o que aconteceu, mas foi uma vitória nosso próprio jornal denunciar isso tudo. Sei que você começou a trabalhar aqui tem pouco tempo, certo?
― Sim.
― Não disponho de muito tempo, mas gostaria de ouvir um pouco da sua história. O que a levou a investigar essa história?
Serena olhou para o diretor a sua frente e pensou no que dizer. Nada mais a impedia de falar a verdade, então narrou rapidamente os acontecimentos envolvendo a morte de sua mãe. Como sempre acontecia, emocionava-se quando falava da mãe. Era uma mistura de emoções que não conseguia distinguir.
― Serena, então tudo foi muito pessoal para você. Foi muita sorte você ter vindo parar aqui então, no meu jornal. Por isso, sem mais delongas, tenho uma proposta para você. Com a saída de Ricardo Gray, estou precisando de um novo editor-chefe na redação. Sei que você não está aqui há tanto tempo quanto alguns funcionários, mas você fez por merecer... então, quer ser a nova editora?
Serena ficou visivelmente surpresa.
― Nossa... claro que quero. Será um novo desafio para mim. Nem sei como agradecer.
― Você fez por merecer, Serena. Não estou fazendo nenhum favor. Estou organizando uma festa de comemoração pelo sucesso do jornal... até para abafar também comentários negativos... provavelmente será nessa semana ainda. Minha secretária está terminando os preparativos e deve mandar um email para todos os funcionários ainda hoje. Peço que espere até a cerimônia para eu anuncie essa decisão.
― Tudo bem, Sr. Silva.
― Só te peço uma coisa, Serena. Não se acomode como o fez Ricardo. Não perca esse seu espírito investigativo.

Já era perto do horário do almoço quando Serena recebeu uma mensagem no seu celular.
“Vamos almoçar juntos? Te pego aí as 13hrs!”
Sempre que Dario conseguia uma folga na delegacia, passava no escritório para vê-la. Perto das 13 horas, ela foi ao banheiro para lavar o rosto e retocar a maquiagem. Sentia necessidade de ficar bonita para ele. Quando foi em direção a porta da entrada do prédio, passou pela sala que era do Ricardo e sentiu um calafrio. Novamente uma sensação ruim se apoderou dela.
Apressou o passo e afastou os pensamentos ruins. Quando passou pela porta giratória, avistou a viatura de Dario parada na rua mas estava vazia. Abriu sua bolsa para procurar seu celular e não percebeu a presença de uma figura masculina parada a alguns metros de distância. Mas sentiu a presença deste quando se moveu e ficou a poucos centímetros de distância. Achando que era Dario, Serena virou o corpo rápido e acabou trombando neste homem, que para evitar que ela caísse no chão, segurou seu braço.
― Perdão, senhorita... ― disse o homem, em voz baixa.
Serena olhou para o homem com horror. Essa voz ela reconheceria em qualquer lugar. Essa voz estava marcada na alma dela.
― Solte-me!― disse em voz baixa para ele, não conseguindo forças para gritar, mas sentindo repulsa do toque daquele homem.
O homem a olhou com certa surpresa, mas deu uma leve risada.
― Tem certeza?― perguntou, apertando os dedos no seu braço.
Como resposta, ela tentou soltar o braço sem sucesso.
― O que está havendo aqui?
Para alívio de Serena, Dario estava parado a seu lado e olhava fixamente para o homem que ainda segurava o seu braço.
― Só estava ajudando a moça aqui...― disse o homem soltando o seu braço, mas colocou algo em sua mão antes de ir, num movimento rápido e discreto.

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