domingo, 7 de outubro de 2007

CAPÍTULO V (FINAL)

(...)

Ela levantou o rosto banhado de lágrimas e sentiu uma imensa alegria ao ver quem era.

─ Dario... ─ murmurou, saindo do carro. Sem pensar no que fazia, atirou-se em seus braços.
─ O que aconteceu, Serena? ─ perguntou preocupado, abraçando-a também. ─ Alguém a atacou?
─ Não. É tão complicado...

Algum tempo depois, Serena deu conta de que se encontrava nos braços dele. Muito constrangida e com a desculpa de pegar um lenço na bolsa, desvencilhou-se do abraço.
─ Desculpe a cena dramática. Acho melhor eu voltar para casa agora.
Dario ficou alguns instantes em silêncio, apenas olhando-a com seus olhos castanhos enigmáticos.
─ Não posso deixar você dirigir assim, Serena. Vamos comer algo na lanchonete. Sem discussões, por favor. ─ pediu quando viu que ela ia retrucar.
E assim Dario a levou para a lanchonete e pediu café e torradas para ambos.
─ Não vou atrapalhar seu serviço? ─ perguntou ela apontando para seu uniforme.
─ Não estou de serviço agora.
─ E o que está fazendo tão distante do centro da cidade?
─ Eu vim resolver um problema particular.
Foram interrompidos pela garçonete, que veio trazer o pedido.
─ Muito tempo que não te vejo por aqui, policial! ─ exclamou a garçonete abrindo um sorriso ─ Sentimos sua falta.
Serena percebeu que ela estava flertando com Dario e não gostou nem um pouco disso. Mas sabia que um homem bonito como ele e solteiro devia conquistar os corações das mulheres.
─ Suponho que você não queira me falar sobre o que aconteceu.
─ Supôs certo, policial Dario.
─ Será que você podia me explicar porque sempre é tão evasiva comigo? E por que será que não gosto quando me chama de “policial Dario”? Parece que você me recrimina apenas por eu ser um policial.

Serena levou a xícara de café aos lábios para ganhar tempo. Sabia que estava errada em julgá-lo tão cedo, mas não podia confiar em ninguém no momento. Mesmo sendo esse alguém uma pessoa que fazia seu coração bater descompassado.
─ Eu não sei nada a seu respeito, Serena. O que eu sei é que você se mudou para Vista Formosa com seu filho por algum motivo que não entendo. Tenho certeza de que não foi por achar nossa cidade uma maravilha. Estou certo?
─ Você está certo, Dario. Mas não me peça maiores explicações, está bem?
─ Está bem. Eu respeito sua decisão. Mas gostaria que confiasse um pouco mais em mim.
─ Entenda que é algo muito pessoal. Não quero falar sobre isso, por favor.
Ele assentiu com a cabeça e também tomou seu café.
─ Não vou pedir que você entenda nada, pois sei que é impossível. Mas gosto de você como a um... amigo. E vou tentar confiar em você e, quando o momento certo chegar, vou contar tudo. ─ disse, colocando sua mão sobre a dele em cima da mesa, numa atitude confiante.

Os dois ficaram alguns instantes fitando um ao outro, presos num mundo à parte. Serena sabia que estava caindo numa armadilha... e que doce armadilha.
─ Dario, você quer mais alguma coisa? ─ a voz da garçonete apaixonada soou um pouco distante.
Serena voltou à realidade abruptamente e se irritou com a garçonete, que parecia estar ignorando-a propositadamente.
─ NÓS não vamos querer mais nada, obrigada! Pode trazer a conta, por favor? ─ respondeu ela antes de Dario e enfatizando sua presença.
─ Dario, preciso realmente voltar para casa. Já está anoitecendo e preciso dispensar Martha. Muito obrigada pelo café e não precisa me acompanhar ao carro. A garçonete está voltando e não quero atrapalhar o namoro de vocês. ─ continuou.

Mas antes que Serena se movimentasse, ele se levantou e segurou seu braço. Tirou algumas notas do bolso e deixou sobre a mesa.
─ Vamos. ─ mandou com voz seca.
Caminharam em silêncio até o carro dela. Serena estava irritada e, ao mesmo tempo, nervosa.
─ Já disse que não quero atrapalhar seus planos, Dario. Sua namoradinha não vai gostar nem um pouco de...
─ É impressão minha ou você está com ciúmes de Fiona? ─ cortou ele.
─ Eu com ciúmes daquela garçonete? Você só pode estar brincando comigo!
─ Que pena... adoraria vê-la com ciúmes de mim... ao menos teria certeza de que gosta um pouco de mim...
─ E preciso sentir ciúmes para provar que gosto de você? ─ perguntou no calor do momento, sem perceber que se comprometera.
─ Não. Realmente não precisa sentir ciúmes, mas... talvez um outro jeito me ajudaria... ─ insinuou ele com um leve sorriso no canto dos lábios.
─ Que outro jeito?
Dario nem esperou ela concluir a frase. Sabia que ela não estava raciocinando direito sobre o que estava falando e decidiu se aproveitar desse momento irracional dela.

Abraçou Serena, trazendo seu corpo para perto do dele, e a beijou nos lábios. A princípio era apenas um beijo simples. Mas à medida que sentia os lábios daquela menina misteriosa estremecerem sob os seus, perdeu completamente o controle.
Serena foi pega de surpresa. Mas secretamente ansiava por um beijo dele. No início nem conseguir reagir, só sentia os lábios duros daquele homem sob os seus. Depois, foi como se algo começasse a derreter dentro de si e correspondeu abertamente ao beijo. Foi uma sensação incrível e indescritível. Não soube dizer quanto tempo ficaram ali, abraçados... como se um tentasse completar o outro.
─ Eu sabia, Serena. Não ouse negar mais. ─ Dario sussurrou ao seu ouvido, quando afastou os lábios do dela. Estava com a voz rouca de paixão. E virou-lhe as costas, deixando-a com seus próprios pensamentos.

Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um "sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência.

***

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