quinta-feira, 4 de outubro de 2007

CAPÍTULO V

Serena olhou com certa tristeza para o prédio que lhe era tão familiar. Muitas vezes sua mãe a levara junto quando ia trabalhar para ir se acostumando a rotina de um jornal. Lembrava de como a atmosfera alegre do departamento a contagiava sempre. Agora alegria era o último sentimento que havia em seu coração.

Abriu a pesada porta da recepção e olhou em volta, procurando alguém, mas estava tudo no mais absoluto silêncio. Caminhou para a escada e foi para o terceiro andar, onde ficava a sala de Marcos Wong. Os corredores estavam estranhamente quietos e completamente diferentes da época que freqüentava.

─ Sr. Wong? ─ chamou Serena, batendo levemente na porta.
─ Pode entrar, menina. ─ respondeu uma voz cansada de dentro da sala.
Serena entrou e se sentou numa cadeira em frente à mesa do editor. Deu uma rápida olhada na sala e constatou que estava vazia também.
─ Sei o que você deve estar pensando. Está tudo muito vazio, não é mesmo?
─ Reconheço que estranhei muito tudo aqui dentro. Mesmo num sábado a tarde, sempre havia gente trabalhando. Lembro muito bem de minha mãe ficando até mais tarde pesquisando e escrevendo matérias, sobre as quais nunca comentava.

A menção do nome da mãe fez o semblante de Marcos mudar instantaneamente.
─ Acho que o sr. tem algo muito sério para me falar. Apesar de estar bastante apreensiva, preciso saber a verdade!
─ Eu sei, menina Serena.

“Logo depois que Marina voltou a trabalhar aqui no jornal, recebemos uma denúncia anônima de corrupção envolvendo pessoas de posições altas e policias em Vista Formosa. Ninguém quis pegar esse caso, por motivos óbvios. Nem eu, menina. Mas Marina não pensou duas vezes. Como um amigo antigo de sua mãe, eu sabia que o que ela queria na verdade era fazer algo surpreendente. O seu pai, menina, quase acabou com a auto-estima de sua mãe. Ela sabia que precisava se sentir útil e nada melhor do que desvendar um mistério desse tipo. Só que ela não pensou nos riscos. E para falar a verdade, nem eu. Ela conseguiu manter contato com o nosso anônimo e, conforme investigava a denúncia, foi descobrindo coisas terríveis. O que havia por trás das corrupções era um esquema de tráfico de órgãos. Sua mãe não contou para ninguém o que descobrira, pois precisava de provas antes de divulgar. Ela só me contou um dia antes de fazer aquela viagem que acabou tirando sua vida. Acho que ela só me contou porque sabia que podia não voltar. E me fez prometer que eu não te contaria nada a não ser que você me procurasse. E acho que ela conhecia muito bem a filha que tinha...”

(...)

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