quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CAPÍTULO X (CONTINUAÇÃO)

(...)Depois de pronta, desceu as escadas para enfrentar a verdade. Dario estava em pé na janela. Ela ficou parada na entrada, indecisa.
─ Serena, sei que você teve a melhor das intenções, mas se eu não tivesse chegado a tempo... ─ começou ele com a voz baixa e sem se virar ─ Você já pensou nisso?
─ Não. Mas você me salvou...
─ Sim. Eu a salvei
─ Como você me achou?
─ Minha mãe me ligou assim que você saiu de casa. Larguei tudo e vim te procurar aqui. Foi quando vi o carro daquele homem e entendi tudo. Achei melhor não intervir, mas te segui até você cometer a loucura de aceitar ir para a casa dele. Quando o vi te abraçando, fiquei louco, Serena. Senti um ciúme que não imaginava sentir por ninguém.
─ Mas você me salvou, Dario... ─ ela sentia a força que emanava dele.
─ Sim. Sempre a salvarei. ─ afirmou, voltando-se para ela. ─ Mas não consegui impedir que ele te tocasse... que te assustasse... que te fizesse chorar.
Sem querer, ela levou a mão à marca roxa de seu braço.
─ A culpa não é sua, Dario. Eu consegui algo...
─ E você acha que esse “algo” vale a sua castidade, meu amor? Sua inocência? Sua crença no amor é tão tênue que tenho medo que nem exista mais.
─ Como assim? ─ perguntou muito confusa com o que ele dizia.
─ Eu já sei de tudo. Sua mãe, Marisa, tinha dois filhos. Você e um menino... que coincidentemente chamado Lucas.
Serena levou a mão à boca de espanto. Não queria que ele soubesse a verdade desse jeito.
─ Quando ia me contar? Apesar de que desconfiei disso desde o nosso primeiro beijo.
─ Perdão, Dario... ─ tinha vontade de implorar, se necessário. Seu rosto já estava coberta de lágrimas ─ Eu juro que ia contar. Eu só queria proteger o meu irmão... ele é uma criança e não merece passar por tudo o que passei.
Dario cobriu a distância que os separava rapidamente e a abraçou.
─ Não chore, meu amor. Eu te amo tanto. Não suporto te ver sofrer mais. Confie em mim.

Eles ficaram assim, juntos em pensamento e corpo, por um tempo que nem eles mesmos sabiam determinar. Serena se lembrou de um poema de Carlos Drummond e, sem perceber, recitou em voz alta.

“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
(...)
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
(...)
Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
(...)”


* Poema “Amor” de Carlos Drummond de Andrade.

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