sábado, 1 de setembro de 2007

CAPÍTULO I (CONTINUAÇÃO)

(...)
Marina tinha ido cobrir um incêndio numa cidade vizinha para uma matéria que sairia no dia seguinte. Para isso, pediu que Serena ficasse com Lucas, pois só retornaria no dia seguinte. Já era de madrugada quando Marina ligou para o celular da filha bastante assustada, dizendo algumas frases incoerentes. Serena ainda estava sonolenta e demorou em entender o que estava acontecendo. A mãe pediu que os dois saíssem de casa e fossem para um hotel.
– Confie em mim, Serena. Só faça o que estou pedindo. Aconteça o que for, lembre-se que amo muito vocês dois. Cuide de Lucas como se fosse seu filho... ele é muito pequeno ainda para entender. Preciso desligar.

Mas antes da mãe desligar o celular, Serena escutou a voz irritada de um homem.
– Você não tem mesmo amor a sua vida! O que pensa que está fazendo?

Ainda deu tempo de escutar um forte barulho e a ligação foi encerrada. Serena soube que havia perdido a mãe naquele momento e, segurando as lágrimas e a dor, fez uma mala com algumas roupas e levou Lucas para um hotel. Muitas horas depois, naquela mesma noite, conseguiu dar vazão a toda tristeza que sentia e chorou até as lágrimas secarem. Mas dois outros sentimentos cresciam dentro de seu peito: revolta e vingança. E a voz daquele homem ficou marcada para sempre na mente e coração de Serena.

Serena nunca soube dizer como conseguiu aparentar surpresa e frieza quando a polícia a procurou para dar a triste notícia. Marina havia sido encontrada com um tiro no peito, abandonada no próprio carro. A polícia disse que tinha sido assalto, pois sua bolsa e objetos de valor haviam desaparecido. Havia também marcas de luta no carro, assim como escoriações e marcas no seu corpo.

Serena insistiu para a polícia continuar investigando, mas de nada adiantou. “Por que então não levaram seu carro?” foi o que argumentou, mas a resposta parecia até já ser ensaiada. “Provavelmente não queriam ser rastreados. Num caso de morte, o que eles menos querem é deixar pistas.” Foi a resposta seca do delegado, ignorando a dor surgida nos belos olhos castanhos de Serena.

Intuitivamente, Serena sabia que a mãe havia descoberto algo. E em algo que a polícia não queria se meter. Como se a mãe a tivesse guiando, não comentou nada sobre a ligação de madrugada. Vingaria a morte da mãe e não importava o tempo que levasse. Essa era a única certeza que tinha.
As únicas desgraças completas são as desgraças com as quais nada aprendemos.
(William Ernest Hocking)

Nenhum comentário: