terça-feira, 4 de setembro de 2007

CAPÍTULO II (CONTINUAÇÃO)

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“Chega de pensar nisso, Serena!”. Ela se repreendeu mentalmente. Olhou para o berço de Lucas e viu que o menino já estava acordado. Assim que a viu, estendeu os pequenos braços para pedir colo.
– Leite! Quero leite. – disse ele em seu colo.
– Tudo bem, meu anjo.

A gravidez de Marina foi complicada, pois ela já contava com seus 43 anos e não esperava ser mãe novamente. Não com uma filha praticamente adulta. Mas não escondeu de ninguém a felicidade que sentiu, mesmo sofrendo tanto nas mãos do marido. Ela considerava sua gravidez uma benção e um presente divino. Lucas nasceu prematuro de sete meses e precisou ficar em observação no hospital, pois era muito magrinho. Marina e a filha iam todos os dias ao hospital ficar perto de Lucas e, ao mesmo tempo, rezar pela sua saúde. Juca não foi uma única vez sequer e Serena se perguntava até quando a mãe ia agüentar esse sofrimento. Muitas vezes se pegava rezando para que ele desaparecesse de suas vidas.

Juca era um homem forte e trabalhador. Mas era muito orgulhoso e ciumento. Não queria a mulher sendo vista por nenhum homem e, por isso, obrigou que ela abandonasse seu emprego. Marina, como amava muito o marido, aceitava tudo calada e evitava até sair na rua. Fazia de tudo para não provocar a ira do marido porque, nessas horas, ninguém conseguia controlá-lo. Mas por mais que não desse motivo, bastava ele sair com os amigos para beber. Quando voltava para casa, bêbado, muitas vezes batia na mulher e a obrigava a ter relações sexuais com ele. Marina agüentava tudo quieta por causa da filha. Não queria que ela soubesse o pai que tinha. Mas Serena sempre ouvia tudo do quarto, mas nunca teve coragem de fazer nada, a não ser chorar.

Serena tem certeza de que quem deu forças para a mãe se reerguer, foi Lucas. Ele era um bebê lindo, com os cabelos e olhos castanhos claros. Tinhas as bochechas cheias, com duas covinhas e sempre sorria. Depois que saiu do hospital, ele ganhou peso rápido e conquistou a todos na família. Todos, menos o pai, que após alguns meses do nascimento do filho, fez as malas e foi embora sem dar nenhuma satisfação. Sem dinheiro e com um filho pequeno que ainda precisava de cuidados, Marina sabia que não podia se dar ao luxo de ficar triste. Precisa correr atrás do sustento da família. Por amor a seus filhos, conseguiu recuperar parte da auto-estima e orgulho. Mas não totalmente, pois uma outra parte dela foi esmagada pelo marido.
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